30 janeiro 2004
escorregadio
O dia escoa como rio selvagem que contemos com o olhar. Julgamos que o temos fixo na imagem, mas ele já nos fugiu sem dizer adeus
quando nos chamam nomes
Chamaram-me desenhador de sentimentos, e caíram-me lágrimas em forma de sorrisos escondidos, em cores de afectos.
29 janeiro 2004
acreditem
Estou intimamente convencido (digamos que é a minha verdade emocional), que o que separa o “possível” do “impossível”, é uma questão de FÉ.
Acreditem!
Acreditem!
28 janeiro 2004
pela manhã
Entrei cedo pela manhã, em perfumes de quem se passeia pela praia à noite, com o mar a cantar baixinho…
27 janeiro 2004
retracto de uma insónia muda
Não há nada pior que uma madrugada chuvosa e fria em que o corpo insiste em fingir que dorme e a cabeça em fuga ao sono, emite pensamentos desconexos e inconscientes, como quem brinca com o cansaço, regados com sabor a fel.
Interromperam-me o sono, imagem de livros, retidos na memória de uma infância rodeada de estantes e lombadas de saber, oriundos de poetas e escritores dispostos sem Pátria. Três livros solitários, sem relação conexa, alimentaram-me a insónia.
A “Queda” de Camus, que me desafia para a leitura à mais de trinta anos, um catálogo de uma exposição de pintura, provavelmente no Louvre (falava francês o dito catalogo dos anos cinquenta de século passado), do qual recordo a capa, branca amarela (do uso), com um quadro de Cezane ( julgo), com um homem a jogar às cartas, ( recordo também comentários meus, de uma infância interrogativa e irreverente , “como é possível fazer um catalogo de pintura a preto e branco?”), e finalmente o “Velho e o Mar” de Hemingway, livro quase gasto, quase roto, não fosse ele de bolso e visivelmente viajante, tão cansadas estavam as suas folhas.Ao bom estilo de filme mudo (as insónias conseguem ser ainda mais mudas que os sonhos), estes livros, estas capas, vaguearam-me a madrugada, sem razão aparente, fugidos de uma memória cansada, num não menos esgotado corpo.Finda esta apresentação, quase publicitária, surgiram em forma de fantasma palavras que corriam atrás de mim, em bicos dos pés, em segredinhos de meninas adolescentes e em risinhos cobardes (continuamos no entanto sem som). Seguiam-me e escondiam-se, quando irritado, me voltava de fúria.
E elas escondiam-se!
E elas riam-se!
E eu não dormia!( e o ciclo repetia-se quase sem fim...)
Por fim, e já esgotado, as palavras que corriam como sombras chinesas, juntaram-se, ditas por um Jesuíta, em domingo de homilia “ Ousa! Ousa ser as palavras que dizes! Ousa ser as palavras que escreves!”
E foi assim que me levantei hoje, enfeitado com olheiras, a fingir que não ouvi o que a insónia me obrigou a Ver ( e no entanto era muda o raio da insónia!), e entrei sem vontade pelo dia, que me esperava, de braços abertos e sorriso cínico.
Interromperam-me o sono, imagem de livros, retidos na memória de uma infância rodeada de estantes e lombadas de saber, oriundos de poetas e escritores dispostos sem Pátria. Três livros solitários, sem relação conexa, alimentaram-me a insónia.
A “Queda” de Camus, que me desafia para a leitura à mais de trinta anos, um catálogo de uma exposição de pintura, provavelmente no Louvre (falava francês o dito catalogo dos anos cinquenta de século passado), do qual recordo a capa, branca amarela (do uso), com um quadro de Cezane ( julgo), com um homem a jogar às cartas, ( recordo também comentários meus, de uma infância interrogativa e irreverente , “como é possível fazer um catalogo de pintura a preto e branco?”), e finalmente o “Velho e o Mar” de Hemingway, livro quase gasto, quase roto, não fosse ele de bolso e visivelmente viajante, tão cansadas estavam as suas folhas.Ao bom estilo de filme mudo (as insónias conseguem ser ainda mais mudas que os sonhos), estes livros, estas capas, vaguearam-me a madrugada, sem razão aparente, fugidos de uma memória cansada, num não menos esgotado corpo.Finda esta apresentação, quase publicitária, surgiram em forma de fantasma palavras que corriam atrás de mim, em bicos dos pés, em segredinhos de meninas adolescentes e em risinhos cobardes (continuamos no entanto sem som). Seguiam-me e escondiam-se, quando irritado, me voltava de fúria.
E elas escondiam-se!
E elas riam-se!
E eu não dormia!( e o ciclo repetia-se quase sem fim...)
Por fim, e já esgotado, as palavras que corriam como sombras chinesas, juntaram-se, ditas por um Jesuíta, em domingo de homilia “ Ousa! Ousa ser as palavras que dizes! Ousa ser as palavras que escreves!”
E foi assim que me levantei hoje, enfeitado com olheiras, a fingir que não ouvi o que a insónia me obrigou a Ver ( e no entanto era muda o raio da insónia!), e entrei sem vontade pelo dia, que me esperava, de braços abertos e sorriso cínico.
26 janeiro 2004
preencher vazios
A criatividade nasce da necessidade quase compulsiva e instintiva de preencher vazios, sejam da alma, folha de papel ou Espaço…
25 janeiro 2004
o giz que fugiu em forma de borboleta
Tenho as mãos sujas de cor!
Pó que se sopra em voo, sem sons.
Movimento-me em manchas coloridas que se desfazem no branco e preenchem vazios de luz.Sombras violetas de giz.
VIOLENTAS!
Palavras que se armadilham em sons e de sons e ferem o poema. (mas que mania a tua de saltar do quadro para as palavras e das palavras para o desenho! Pára por favor que me angustias a alma!)
Formigas de pó que se desenham em esperança de borboleta.
Violinos sem maestro, rasgam sons que pintam o voo delicado de formiga colibri que se reflecte em borboleta (violeta?) aos olhos do poeta triste que não sabe de que luz ou de que sombra há-de pintar os olhos que lhe incomodam o SONHO!
Pó que se sopra em voo, sem sons.
Movimento-me em manchas coloridas que se desfazem no branco e preenchem vazios de luz.Sombras violetas de giz.
VIOLENTAS!
Palavras que se armadilham em sons e de sons e ferem o poema. (mas que mania a tua de saltar do quadro para as palavras e das palavras para o desenho! Pára por favor que me angustias a alma!)
Formigas de pó que se desenham em esperança de borboleta.
Violinos sem maestro, rasgam sons que pintam o voo delicado de formiga colibri que se reflecte em borboleta (violeta?) aos olhos do poeta triste que não sabe de que luz ou de que sombra há-de pintar os olhos que lhe incomodam o SONHO!
24 janeiro 2004
um instante, um abraço!
Perco-me na espera de um momento. Um instante apenas. Um som, uma brisa, um traço de cor. Um instante em troca de um sorriso, de um impulso. Vento quente de Africa, um sopro, uma recordação. Um instante só, um momento, um beijo de tons e de melodias que se perdem na memória de quem se confunde e tropeça na fantasia. Um beijo de vento quente, de Africa ou de qualquer sitio, apenas um instante que me aqueça e me estremeça desta solidão que tropeça nas palavras e nos traços que se desenham e nascem sem luz.
Uma Palavra, uma só palavra, um só gesto.
Um abraço.
Uma Palavra, uma só palavra, um só gesto.
Um abraço.
23 janeiro 2004
o lápis amotinado
Agarrei com raiva um lápis de carvão, com a fúria de lhe partir a ponta, sem lhe dar a oportunidade de se transformar em sombra.
Com a autoridade e irreverência que lhe é devida (os meus lápis são assim, não há nada a fazer…), recusou-se na tarefa de se auto mutilar e transformou-se em silhueta dançante, em traços delicados de bailarina com sotaque cigano,ao som de flamengo, tocado por uma, não menos delicada, flauta de Pan (o raio do lápis deu em ser musico e surrealista!).
O negro travestiu-se em cinzento que sem pudor e respeito se despiu em tons de vermelho aguarela, (acreditam que atrás da bailarina, o negro carvão escondeu-se em esboço de coelho com olhos de touro prestes a entrar na arena? Não acreditam? Eu também não! Mas a verdade é que nesta história de bailarina a dançar flamengo, fica bem um touro! O pior é que a bailarina é linda ( já o tínhamos intuído) e atrás de semelhante silhueta só mesmo um coelho se pode esconder, mesmo sendo um coelho com olhos cor de sangue, que chora em reflexos de vermelho aguarela!).
Resignado, deixei-me levar pela música que o lápis pintou só para me contrariar!
Com a autoridade e irreverência que lhe é devida (os meus lápis são assim, não há nada a fazer…), recusou-se na tarefa de se auto mutilar e transformou-se em silhueta dançante, em traços delicados de bailarina com sotaque cigano,ao som de flamengo, tocado por uma, não menos delicada, flauta de Pan (o raio do lápis deu em ser musico e surrealista!).
O negro travestiu-se em cinzento que sem pudor e respeito se despiu em tons de vermelho aguarela, (acreditam que atrás da bailarina, o negro carvão escondeu-se em esboço de coelho com olhos de touro prestes a entrar na arena? Não acreditam? Eu também não! Mas a verdade é que nesta história de bailarina a dançar flamengo, fica bem um touro! O pior é que a bailarina é linda ( já o tínhamos intuído) e atrás de semelhante silhueta só mesmo um coelho se pode esconder, mesmo sendo um coelho com olhos cor de sangue, que chora em reflexos de vermelho aguarela!).
Resignado, deixei-me levar pela música que o lápis pintou só para me contrariar!
22 janeiro 2004
preguiça
Acordo lento, quase mandrião, como quem recusa movimento.
Fico suspenso entre a decisão de retomar a obrigação de produzir, a negação do existir ou esconder-me entre a escuridão de um poema, que impõe novos rumos, novos passos…
Como máquina desajustada, que vomita rotinas sem autorização, levanto-me.
Dou comigo sentado à secretária, rabiscando ofícios, orientando decisões, gesticulando direcções e sentidos.
Sinto-me parênteses que me canibalizam o Tempo e o Ser.
Procuro palavras, sentidos e invento cores sem formas, como quem esculpe texturas em pedra polida.
Hoje o dia soa a filme mudo, onde nem o piano se deixa ouvir.
Restam-me as cores, sempre elas, fiéis amigas de um olhar que insiste a ir mais longe que a imagem que se reflecte sem filtros.
Fico suspenso entre a decisão de retomar a obrigação de produzir, a negação do existir ou esconder-me entre a escuridão de um poema, que impõe novos rumos, novos passos…
Como máquina desajustada, que vomita rotinas sem autorização, levanto-me.
Dou comigo sentado à secretária, rabiscando ofícios, orientando decisões, gesticulando direcções e sentidos.
Sinto-me parênteses que me canibalizam o Tempo e o Ser.
Procuro palavras, sentidos e invento cores sem formas, como quem esculpe texturas em pedra polida.
Hoje o dia soa a filme mudo, onde nem o piano se deixa ouvir.
Restam-me as cores, sempre elas, fiéis amigas de um olhar que insiste a ir mais longe que a imagem que se reflecte sem filtros.
21 janeiro 2004
transparências
Paro!
Rápido e de improviso à espera que o Mundo me ultrapasse e eu o consiga ver de costas sem olhar as máscaras que o enfeitam.
Ilusão!
Parei e ninguém me ligou nenhuma, ninguém me ultrapassou, pura e simplesmente saltei fora da imagem, e só eu dei por isso. Não vi costas, nem mascaras, nem reflexos.
Sentei-me a olhar a multidão e percebi o quanto cada um de nós é transparente e inexistente. Somos árvore que só existe quando buscamos sombra, ou quando olhamos o vazio à procura de paisagem…
Rápido e de improviso à espera que o Mundo me ultrapasse e eu o consiga ver de costas sem olhar as máscaras que o enfeitam.
Ilusão!
Parei e ninguém me ligou nenhuma, ninguém me ultrapassou, pura e simplesmente saltei fora da imagem, e só eu dei por isso. Não vi costas, nem mascaras, nem reflexos.
Sentei-me a olhar a multidão e percebi o quanto cada um de nós é transparente e inexistente. Somos árvore que só existe quando buscamos sombra, ou quando olhamos o vazio à procura de paisagem…
16 janeiro 2004
um abraço inoportuno
Corro, não em busca de ilusões ou fantasias, mas na própria imagem que me confunde o Sonho.
Transporto-me para longe da percepção que me esconde o olhar e fundo-me entre a imagem e o sentir.
Esfumo-me em cor imaterializada, no exacto instante do reflexo que persiste nas águas turvas do rio que me atropela os afectos e os sentidos.
Parado no tempo, respiro.Acordo com o vento frio que me abraça e empurra os passos que teimo em não dar.
Transporto-me para longe da percepção que me esconde o olhar e fundo-me entre a imagem e o sentir.
Esfumo-me em cor imaterializada, no exacto instante do reflexo que persiste nas águas turvas do rio que me atropela os afectos e os sentidos.
Parado no tempo, respiro.Acordo com o vento frio que me abraça e empurra os passos que teimo em não dar.
13 janeiro 2004
poder
É urgente eliminar o poder que a fraqueza humana detêm nos desígnios do destino que nos orienta os caminhos...
09 janeiro 2004
recusa
Procuro o lápis e papel para fixar palavras que me saltam em imagens irrequietas.
O lápis fugiu e eu embaraço-me na memória que teima em perder as cores quando olhada ás escondidas, sem aviso prévio!
Perco o momento!
As palavras não passam de imagem esbatida à procura de ordem, sentido e arrumo. No entanto sei que lá estão, algures entre o pensamento que as criou e a imagem em que se transformaram.
Talvez volte à noite, quando já não for importante!
É muito envergonhada esta imagem que se recusou a ser poema!
O lápis fugiu e eu embaraço-me na memória que teima em perder as cores quando olhada ás escondidas, sem aviso prévio!
Perco o momento!
As palavras não passam de imagem esbatida à procura de ordem, sentido e arrumo. No entanto sei que lá estão, algures entre o pensamento que as criou e a imagem em que se transformaram.
Talvez volte à noite, quando já não for importante!
É muito envergonhada esta imagem que se recusou a ser poema!
07 janeiro 2004
por detrás so espelho
Apetece-me andar, ir por ai sem destino, de olhos bem abertos sem sentimento de fuga. Simplesmente andar, como quem se perde nas emoções e nos afectos. Sentir o frio, os odores, os sons, sem filtros. Olhar as cores puras de uma existência que se esconde por detrás do espelho e que não alcanço da minha janela.
05 janeiro 2004
Reencontro, ou a inexistência da ausência...
A amizade é um afecto que coexiste num espaço sem tempo que se retoma no exacto instante do último adeus.
04 janeiro 2004
meta(s)
O desfio não está em cortar a meta, mas sim colocá-la sempre à frente do olhar, numa corrida cujo objectivo é simplesmente ser.
03 janeiro 2004
ausente de mim
Caiu um denso nevoeiro cinzento negro que accionou um caminhar vigilante sobrevivente. Segui as guias de um caminho apenas com o querer de chegar ao fim daquele universo sem cor. Faltou-me as forças para imaginar luz. Segui apenas os passos, certo que olhando o chão, não me perdia no sentido. Caminhei ausente com medo de mim, medo de me enganar na escuridão. Cobarde de mim, cobarde de me ferir com a intensidade das cores que me envolvem o eu.
Hoje fez sol, o nevoeiro fugiu (escondeu-se, à espera de nova oportunidade), e eu aqui estou a sorrir-me das cores que os olhos me inventam.
Hoje fez sol, o nevoeiro fugiu (escondeu-se, à espera de nova oportunidade), e eu aqui estou a sorrir-me das cores que os olhos me inventam.
Subscrever:
Mensagens (Atom)
não uso tempos, nem agendas ou instrumentos outros que meçam pedaços do existir. é jeito meu. por isso passar de um ano para o outro é cousa...
-
Hoje não escrevo. Doem-me as palavras. As minhas, também... choro sózinho, sem elas, no vazio. além..
-
Queria escrever-te, mas as palavras fogem-me, como se me dissessem, “ Agora não! Espera que venham outras de nós, com outros sentires, Esper...
-
Vou fazer uma pausa. Cousa necessária em alturas de Presépio. É época de caminho. É por aí que vou, sem demoras que é viagem por dentro… Um ...