Acordo lento, quase mandrião, como quem recusa movimento.
Fico suspenso entre a decisão de retomar a obrigação de produzir, a negação do existir ou esconder-me entre a escuridão de um poema, que impõe novos rumos, novos passos…
Como máquina desajustada, que vomita rotinas sem autorização, levanto-me.
Dou comigo sentado à secretária, rabiscando ofícios, orientando decisões, gesticulando direcções e sentidos.
Sinto-me parênteses que me canibalizam o Tempo e o Ser.
Procuro palavras, sentidos e invento cores sem formas, como quem esculpe texturas em pedra polida.
Hoje o dia soa a filme mudo, onde nem o piano se deixa ouvir.
Restam-me as cores, sempre elas, fiéis amigas de um olhar que insiste a ir mais longe que a imagem que se reflecte sem filtros.
22 janeiro 2004
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