A floresta que me percorreu o olhar começou a chegar ao fim.
Entrelaçados, sonhos velhos, pintavam-se já de sombras sépia ( cor fora de propósito numa floresta de sonhos, de cristal, pensamos nós que não percebemos nada disto que se desenrola no olhar desse aí que escreve no meio de um sonho).
Como uma porta que se abre ao som de um vento-brisa, em cores de sol-rasteiro, uma enorme clareira.
Ao centro ( estranho este olhar, decidido de quem conta, nós aqui que observamos a cena, custa-nos imaginar um centro quando o espaço se perde no horizonte), uma cubata redonda, com tecto cone, em capim-torrado, sem paredes, apoiado em cinco pilares de madeira, quatro, pintados ás riscas zebra(em desenho de quadrado), e um ao centro, maior, imponente, em pau-ferro, feito mastro de navio gigante a apontar o céu…
Sentado, mimetisado na cor, estava um homem magro, quase osso, sem idade.
Entrei em passos sem sons e sentei-me de fronte, a olhar os olhos que se sugavam de luz, mas que se sentiam vivos, fortes, como o mastro sem vela que apontava o céu.
Sem vento nem mistério perdi-me no tempo, porque me vi menino, naquele mesmo espaço, perante aquele mesmo homem, intemporal ( ele e eu, numa fusão de sentires, inexplicavelmente nossos).
Vindos do olhar senti percorrer o corpo até à alma uma tranquila serenidade.
Minha, não dele.
Ela, sussurrou-me, num prazer leve, quase sorriso” Não, não é magia, nem mistério. Quando se leva nos passos a procura, o inevitável é defrontarmo-nos perante a descoberta, mas quando é a fuga que nos movimenta os passos, tudo se esconde nas sombras e até o olhar se transforma em medos…
Por isso estás sereno, perante o que procuras…”
07 novembro 2004
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5 comentários:
A clareira só existe quando existe uma floresta...a que percorreste, em sonhos. Fuga e procura fundem-se tantas vezes...ou talvez avancem paralelas, vigiando-se.
Se a serenidade te envolve, interiormente também, é porque não foges, olhas, vês...
Beijonho, Almaro.
Um beijo do tamanho da galáxia...
deixa-me redizer de manso ouvir de novo assim...
"Quando se leva nos passos a procura, o inevitável é defrontarmo-nos perante a descoberta, mas quando é a fuga que nos movimenta os passos, tudo se esconde nas sombras e até o olhar se transforma em medos…
Por isso estás sereno, perante o que procuras…”
"Quando se leva nos passos a procura, o inevitável é defrontarmo-nos perante a descoberta". Meu querido amigo, nada mais verdadeiro. Se a tua descoberta te traz serenidade, então estás mesmo no fim da floresta. Beijos
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