Sinto a cabeça a estoirar de vazios.
Cheia de palavras desarrumadas, sem sentido. Como cego, que perde o apoio, os sons, as referências que o encaminham, (numa manhã fria de Sol com cheiros a orvalho), fujo do encontro de Mim.
Pego numa mão cheia de palavras e deixo as escorrer como areia da praia. A areia não cabe na mão, esvoaça, escoa em carícias, mas continuo a não entender o que as palavras me escrevem, em segredo, ao ouvido…
Sinto-me máscara moldada que se finge, que se engana, que se reinventa.
Sou pião de corda nas mão de menino, que brica sozinho num jardim. (Todos os jardins tem pombas, e este onde o menino me joga em pião não é original, mas responde por Estrela e guarda-se em recordações de infância, como móvel esquecido em sótão envolto em pó. Estrela que nunca vi, mas imagino talvez escondida por nuvem de pombas assustadas com o movimento brusco, porém belo, da corda do pião que se joga em Vida e em desenho que insurrecto se colocou em folha branca, datada e assinada e que se exibe em parede também ela branca, não muito longe daquele jardim que responde por Estrela!)
11 fevereiro 2004
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