17 novembro 2003
Duas papoilas, uma mesa, e um pensador ausente que não queria ficar no quadro, mas ficou...
Uma enorme vontade, transfigurada em impulso, devolveu-me as cores, os pincéis, e uma luminosidade, que transformou uma esguia tela em duas grandiosas papoilas, vermelho amarelo, que se acomodaram no quadro. Ao longe, em plano segundo, nasceu uma mesa elíptica que se metamorfoseou em silhueta humana quase transparente. Traço contínuo de desenhador impaciente. Em jeito de fundo, em cama de cores, pincelei tons de amarelo-verde torado de forma a por as papoilas a dançar à frente do pensador transformado em mesa. Não me perguntem qual o significado do impulso materializado em cor, não sei resposta. A verdade é que naquele momento era só eu e as cores que se envolveram numa fuga ao atropelo dos últimos dias. É uma forma diferente de nos vermos reflectidos no espelho e de nos descobrimos no silêncio como quem vasculha a alma que se encolheu com o frio que nos cegou, no quotidiano que se nos impôs, ao som de uma trovoada desmedida.
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