Quando o vazio nos enche a alma de interrogações, normalmente refugiamo-nos em recordações que tentam iludir as percepções do presente, e por momentos, breves é certo, julgamo-nos senhores da vida. Controlamos os sentidos, escolhemos as cores que envolvem o olhar, e lá no fundo, bem no fundo do sentir, descobrimos que sabemos sorrir, que fomos premiados por afectos, e que essa existência nos permite jogar aos dados com a vida.
Não fossem essas recordações, essas viagens por uma realidade que é só nossa, não conseguiríamos perceber a infinidade de acasos que nos moldaram o carácter. Somos mais do que uma simples escultura, de um único artista, de um único pintor, somos obra colectiva que não existiria se um único dos acasos que se cruzou na nossa vida se perdesse noutros caminhos, noutras direcções, noutras existências.
07 novembro 2003
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