16 novembro 2003
retrato de um domingo
A falta de tabaco, que permitisse alimentar a pequena fornalha que me aromatiza o pensamento e confesso o bem-estar, encaminharam-me os passos para uma das catedrais do consumo, espalhadas por esse país fora. Sim também esta pequena cidade algures no coração deste pequeno País tem uma, aberta domingo, dia de repouso e reflexão. Quando se pensa em tabaco, (mesmo que inalado por cachimbo, forma mais pachorrenta de dar cabo dos pulmões e de outros sistemas naturalmente robotizados que nos mantém de pé para saborear os limitados Domingos que nos foram destinados), surge a ideia da inevitável cafeína, por isso lá fui eu, resoluto a sentar-me numa das mesas, bem no centro daquela impessoal floresta de mesas e cadeiras, que a dita grande superfície comercial disponibiliza aos seus fiéis crentes. Sentei-me, envolvi-me nos odores do fumo que expelia e serenamente, calmamente, descontraidamente olhei. Na já ilustrada selva, centenas de olhos, debruçados ora em tigelas enormes, ora em pedaços de pão, ora em mini-pratos , besuntados de gordura, naturalmente também eles, serenos, e descontraídos ali estavam a consumir o seu Domingo, como quem rasga mais uma folha do calendário da Existência.
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