23 abril 2004
excelência,
Pinto-te macaco em cores de papagaio, Tu que te vestes de gravata e fato apropriado e te agachas em aplausos submissos e sorrisos cínicos, Tu que te vergas , Tu que te engasgas com Sua Excelência em salamaleques ordinários e medrosos, Agonias-me em cheiros de dejecto que se espalha no ar, em nuvem contaminada de cobardia. Tu que te levantas em aplausos à passagem de Sua excelência, reflectes vermelhos de vergonha, mas sem ela. Riu-me de Ti e Dele em gargalhada aberta, que se abafa nos aplausos, mas riu, e oiço-me, e mostro-me, e vês-me, e olhas, primata com cores de chimpanzé. Discursas de boca cheia, mas só tu te ouves, e sentes-te César, e vês-te no coliseu de polegar virado, armado em matador, Tu que decides, Tu que te envolves nas gravatas de alfaiate, e falas de povo, e falas de macacos que te aplaudem, Peço-te, humildemente, tem vergonha, cala-te, olha-te ao espelho e vê que esse papagaios não voam, Exige andorinhas, exige gaivotas, exige o que quiseres, mas macacos não, papagaios não que cheiram mal, cheiram a podre, e as palmas são patéticas e as palavras são iguais às tuas, Tem coragem, e envolve-te com quem te diz não, tem vergonha dos sim excelência, que são cínicos, e só tu não vês. Olha nos olhos e diz o que pensas, não te engasgues em compromissos que não sentes e não queres. Segue o teu caminho, porque se não é o teu, deixa a tarefa para quem o saiba, Autentico, sem fingimentos, sem fugas, mal ou bem, mas Verdadeiro. (Não tenho jeito para isto, prefiro o circo, os saltimbancos, os palhaços, os animais, com cor ou sem cor, esboço de carvão em papel amarrotado, mas autênticos, reais.)
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