Olhei arvore-laranja, fresca de sombra, pintada de sua cor. Convidou-me, simpática, a levar cores que lhe pesavam. Não gostava ela, sabia-o eu, de ver suas cores pingadas no chão, que este se quer verde , castanho, ou de outra qualquer. Laranja é que não! “Colhe-me, insistiu!”
Fui buscar escada, em passos solenes, que árvore avó merecia respeito, não só pela sombra, não só pelas cores, por ela, que me dava a sorrir sangue dela, em doces coloridos. Uma a uma, guardei as cores que me oferecia, todas diferentes, todas dela, com cuidados muitos, como ela merecia.
“Não sejas tonto, não me colhas assim, que não me vês toda. Dessa escada, mesmo alta, só me tiras cor pouca, e só por fora fico outra, em tons verde-sem-laranja. Sobe-me os ramos, olha-me de dentro, que eu envolvo-te de fresco e de cores, que daqui vês muitas. Só daqui, por mim, de mim, me vês frutos todos, os de dentro, os de fora, e os que chorei para o chão."
26 maio 2004
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