30 novembro 2005

mocho-cego

as palavras não me dizem. nada. já não! desfazem-se no(s) silêncio(s). caídas. sozinhas. no vazio das letras sem sentido(s). delas. os meus, já não se desenham. nelas. desenformam-se deformadas em nuvens-de-pó, de giz colorido nas-chuvas-de-estio, em vapores-de-solidão-desabraçada, nas noites de mocho-cego. macho. enfeitiçado. as palavras não me dizem. correm sem mim, no poema que não fiz. é dia de poetas. estou surdo. invento vazios. cinzentos.
e
as palavras. aqui.
e
eu sem mim.

29 novembro 2005

o desenho de uma árvore

uma árvore é isso mesmo. uma árvore. tronco. folhas. raízes. sementes. a sombra é o seu olhar….a cor , essa é o reflexo do seu existir…

28 novembro 2005

incongruências sem metafísica

Pensar não é sentir, é desenhar um sentido.

O desenho é uma linha incompleta, mesmo que contenha todas as cores do Universo.

Por isso o Sentir é muito maior que todos os nossos universos, não cabe no desenho, nem na cor.

Nasce sem Semente!

Nem Metafísica!

Mas existe-Nos inteiro no Corpo!

25 novembro 2005

quando cada um é UM escondido na multidão

As pombas da cidade grande são como as pessoas,
da cidade!
Muitas…
Iguais…
Sem nome…
Todas!

No entanto, quando uma voa,
só,
leva o olhar
e
os verdes
e
os azuis,
e
as poesias,
Todas!

Por colorir,

e
o nome,
inteiro,

s-o-l-e-t-r-a-d-o com o existir...

24 novembro 2005

outono(s)

tenho um Outono,
preso,
agrilhoado numa flor,
que insiste,
atrevida,
em cores do destempo,
como balão perdido,
nos olhos-mãos
de um menino...

23 novembro 2005

brincares

o tempo em ruídos sussurrados disse-me quase em voz,
“ brinca comigo”…
peguei-o,
atei-lhe cordel
e
lancei-o ,
qual papagaio de papel…
quando,
lá,
no ir,
já,
no alto,

no cimo,
e
ainda a subir,
soltei-o,
mais além
e
vi-o
a desfazer-se no céu azul a fugir-se,
a fingir-se voo de pássaro-nuvem...

22 novembro 2005

reflexos

Tenho os olhos húmidos-de-sonhos,
que não escrevo,
que não sei…
mas,
quando
se
formam
l
á
g
r
i
m
a
s
,
esculpidas em queda-de-mil-cores,
escrevo,
o que não vivi
na
história escondida no reflexo-do-sonho
que
andou perdida dentro de mim…

21 novembro 2005

tempo(s)

quantos anos passaram?
quantos acasos?
poucos?
nadas?

uma Flor não se pinta num único instante, tem todo o peso do Universo,
e
o Tempo Dele , é magia que não desenho!

17 novembro 2005

resistir

resisto
sem sentir
em revolta surda,
amordaçada…
resisto
cansado
das palavras que se transformam
em reflexos que não pintei...
resisto
de ser palavras
que não sei…
mas,
não desisto
de ser palavra alada
porque só me sei vento
que abraça sentimento…

15 novembro 2005

sem espaço

no espaço-minúsculo em que me habito,
dança um verso,
sem poema,
habitáculo-do-sonho…
castelos-no-ar…
grito-de-borboleta-em-olhos-de-menino…
flor-em-desenho-insano…
gira-sol-do-mar…
voo-de-homem-pássaro-sem-destino,
coisas outras,
tantas
que sinto…
fosse eu mais minúsculo ainda
e não me cabia…

mas não importa
porque importaria?

se a flor não cabe na terra…
se o sonho não cabe em mim…

ah…ser ínfimo assim
e
quase ser universo,
é ser gota de sal
num mar sem fim…

14 novembro 2005

cair na planura

dobrei a esquina-do-vento
e des-nasci-Me num imenso azul,
tal águia-solitária
leve
na
Solidão-da-planura
e
deslizei
no
Sentir…
no
Apenas…
no
Existir…

10 novembro 2005

searas

semeei uma palavra aqui,
outra,
mais ali,
outra ainda,
quase além…

vou demorar-me no tempo
como quem espera um nada…
serão árvores?
flores?
cores?
sentires?
conjugações do Amar?
vou ficar, não vá uma delas crescer longe do meu olhar…

09 novembro 2005

finjo-Me, a mim...de SER!

Não queria deixar apagar a vida, como quem extingue um cigarro, absorto no nada, sem visão de mim. Incompleto. Mas,
vezes há, que nos extinguimos na solidão de uma bruma espessa…
Só oiço o mar, que me chama,
sem chama,
na ilusão do estar aqui…
Desenho um círculo com um tamanho,
só,
sem dimensão…
Estou , numa ausência irritante de me querer num Eu que já não sou…
e
finjo,
finjo-me,
cores como quem dissimula vida nesta noite-quase-escura, que me tolda a visão,
e
finjo
finjo-me,
passos,
caminhos,
empurrado pelo querer de ser onda,
de ser pássaro
e
vivo-Me no delírio de SER!

08 novembro 2005

noite de bruma

escrevo a noite,
com a intensidade suave,
de um beijo,
voado no vento…

beijo-ilha,
navegante…

escrevo
a
noite, ( neste barco sem quilha... )
em desenho-lua,
minguante,
reflexo de onda,
do teu mar
cintilante…

barco de silhueta-nua,
poema sem letra,
nem musica,
nesta noite-escura,
intrigante…

beijo-sopro
que voa à vela,
na névoa,
na bruma,
neste barco-feiticeiro,
nesta Falua,
que bolina num Tejo,
fantasma
que já não vejo
neste teu beijo
que desceu à rua ...

07 novembro 2005

esculpir, em cores várias...um quadro, quase sem letras

Esculpi uma árvore sem linha de horizonte e salpiquei-a de borboletas…

nota1: texto curto, é verdade, mas deve ler-se com fundo azul. Claro no cimo (quase dia) , escuro no baixo ( quase noite); a árvore, um imbondeiro-sem-tempo ( como a África-Inteira); as borboletas…muitas, com cores de tamanhos vários; as raízes…TODAS!...cor de sangue, a pingar gotas de terra ...
nota 2: permite-se variantes para o fundo…cor-de-fogo-no-fim-de-tarde-dos-trópicos, e leituras outras, mas essas já não me pertencem, mas maravilham-me na mesma…

06 novembro 2005

partir, à procura...

vou descobrir a palavra com que se escreve a cor-que-tem-o-olhar...
não olhar qualquer, esse tem palavras gastas, usasdas, desusadas, mas os olhares-do-antes-da-lágrima...
ah! esse, deus-meu, é palavra que ainda não sei!

04 novembro 2005

corridas

passou por mim uma memória, a brincar, toda divertida. tinha aroma de flor e olhar cor-de-fantasia. corria em risos soltos. loucos. quase menina. linda. a bailar dentro de mim. quase magia…

03 novembro 2005

02 novembro 2005

dimensões do Ver

Papá, papá empresta-me os teus olhos , para te ver Todo…
Não, meu filho, não te vou emprestar o meu olhar, se o fizer, morro no teu Ver…
Está bem papá, mas olha, vou-te desenhar assim tal qual,
Grande!
Gigante!
Vou desenhar-te, na imaginação, sem papel, só assim cabes inteiro no meu olhar…

01 novembro 2005

misturas

trago a noite nos lábios. nos teus. passeio no destempo o desenho do teu dançar misturado num beijo. no nosso

não uso tempos, nem agendas ou instrumentos outros que meçam pedaços do existir. é jeito meu. por isso passar de um ano para o outro é cousa...