01 março 2004

o jardineiro desatento

A forma menos passiva de estar na vida é a da entrega.
Digo isto com toda a convicção que me vai na alma, porque a entrega, não é mais do que semear incessantemente sinais, aos que nos rodeiam. É como se estivéssemos permanentemente a ensinar ao nosso companheiro, aos nossos amigos, aos nossos colegas um modo de agir, um modo de olhar a Vida, e isso não tem nada de passivo ou de submissão. É precisamente o contrário, é uma atitude de orientação e de indicação de caminhos e de opções, onde a escolha é de cada um. É por isso que se torna aliciante a relação com os outros, é por isso que nos dirigimos numa direcção, num sentido. É o que nos faz levantar de manhã e sabermos que temos uma tela inteira para pintar as nossas cores, o nosso poema. A vida assim torna-se entusiasmante e uma Aventura! Não se deixem cair na tentação da submissão, isso sim trás angústia e desespero e minam uma relação humana. Daí a necessidade do olhar, do estar atento, do observar, para detectar que tipo de sinal é que vai produzir uma determinada reacção.
É como um jogo de luz e de sombras.
É como assistir ao nascer de uma flor que precisa ser regada na medida certa.
Cada flor precisa de um cuidado individual. Não há uma única rosa com a mesma cor, mesmo as brancas!
Tudo isto deixa de funcionar, quando nos pomos no lugar da flor, à espera dos cuidados do jardineiro desatento.
Vamos morrendo lentamente, isolados do mundo e da Vida.
Vezes sem conta olhamos o vazio e sentimos lágrimas incontidas , mas isso faz parte do poema e do conforto de conseguirmos criar o nosso próprio universo, e de sentirmos que a nossa existência tem um significado e um objectivo que ultrapassa a nossa própria individualidade.

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não uso tempos, nem agendas ou instrumentos outros que meçam pedaços do existir. é jeito meu. por isso passar de um ano para o outro é cousa...