Estou de facto a ficar velho, não tanto um velho do Restelo, mas sim um resistente quase militante ás novas formas de comunicação, que invadem o quotidiano poético de quem gosta de ver o que as palavras nos dizem, com imagens que nos retiram a gustação de reinventarmos a imagem através dos sentidos que as palavras escritas nos permitem, pintando as nossas próprias cores. Sim eu sei que o período é longo, confuso, com várias leituras, com várias perspectivas, com sentido ou sem sentido algum, mas traduz o que uma fotografia, ou uma palavra amputada ( estilo agora é ke é, ou kando mandei aKilo), são incapazes de revelar.Isto para dizer que ultimamente recebo quantidades imensuráveis de e-mails com fotografias de todos os feitios possíveis e impossíveis , das mais diversas proveniências (amigos, conhecidos, desconhecidos e entes queridos), que me tem deixado gradualmente, velho, rabugento e amargurado.
Eu, que sou um dislexo nato e que durante toda a minha sofrida instrução tive que estender a mão para solenemente, de olhos baixos, sentir a dor de uma reguada por cada palavra que escrevia ao sabor do som dela mesma ( cosinha, lasso, caza, baloisso, etc, etc), sou invadido por trejeitos linguísticos que leio e releio à procura do som que emitem para lhes tomar o sentido, quase me apetece desabafar com um "porra que não aguento tanto ruído !"Mas pior que as palavras sonoras, são mesmo as imagens. Não tanto a imagem em sim, mas o acto de comunicar com imagens. Limita-me o sonho, (mesmo que elas próprias já traduzam o sonho de alguém), limita-me o acto de desenhar o ver , pois sou condicionado, como quem entra num túnel e só espera ver uma luzinha lá bem à frente no meio da escuridão .
Desculpem o desabafo, escrito e sentido de uma só vez, assim tal qual saiu do sonho de pensar as palavras, que nos traduzem o sentimento, impulso cada vez mais raro neste HOMOSAPIENS-SAPIENS do século XXI.
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