23 janeiro 2004

o lápis amotinado

Agarrei com raiva um lápis de carvão, com a fúria de lhe partir a ponta, sem lhe dar a oportunidade de se transformar em sombra.
Com a autoridade e irreverência que lhe é devida (os meus lápis são assim, não há nada a fazer…), recusou-se na tarefa de se auto mutilar e transformou-se em silhueta dançante, em traços delicados de bailarina com sotaque cigano,ao som de flamengo, tocado por uma, não menos delicada, flauta de Pan (o raio do lápis deu em ser musico e surrealista!).
O negro travestiu-se em cinzento que sem pudor e respeito se despiu em tons de vermelho aguarela, (acreditam que atrás da bailarina, o negro carvão escondeu-se em esboço de coelho com olhos de touro prestes a entrar na arena? Não acreditam? Eu também não! Mas a verdade é que nesta história de bailarina a dançar flamengo, fica bem um touro! O pior é que a bailarina é linda ( já o tínhamos intuído) e atrás de semelhante silhueta só mesmo um coelho se pode esconder, mesmo sendo um coelho com olhos cor de sangue, que chora em reflexos de vermelho aguarela!).
Resignado, deixei-me levar pela música que o lápis pintou só para me contrariar!

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não uso tempos, nem agendas ou instrumentos outros que meçam pedaços do existir. é jeito meu. por isso passar de um ano para o outro é cousa...