De olhos fechados, experimento a sensação de ouvir o que não cabe em mim. Tento soltar os ruídos que se colam ao sentir, em melodia aguda e fina, mas tudo se esconde, nas grutas de uma memória que se pinta de verdades. Tudo sou eu, não há fuga. Mesmo os gritos, mesmo os quadros deitados fora, todo o lixo do sentir que guardei e vivi, colou-se-me à pele das emoções. Sou um conjunto do não querer.
Abro os olhos cheio de vontade de repintar o quadro, mas ele está ali defronte, pendurado na parede, assinado e datado.
Tento-me em roubá-lo.
Ladrão de mim!
Resisto.
Deixo-o pendurado, mesmo torto, a querer cair para um dos lados, desenquadrado, desequilibrado.
Saio.
Lá fora está um dia cheio de luz. É intensa, mas vou, sem fechar os olhos. É cor de estrela, é cor de caminho. Sabe bem o calor da cor que não nos deixa esconder o ver. É de um quente transparente que nos sorri de fantasia.
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3 comentários:
De vez em quando não há por onde fugir. Somos demasiado transparentes para nós mesmos :) Abraço.
Continua a passear-te, fantasiando, sorrindo, vivendo.
"Sou um conjunto do não querer". Uma coisa é certa, não se pode apagar o que está para trás, pode-se é seguir em frente sem repetir aquilo que agora rejeitamos. Esse quadro pendurado na parede, mesmo torto e desiquilibrado , parece-me que também és tu. Assim... Como negar uma parte de ti? E também, diabo, quem sou eu para estar para aqui a falar de coisas que não conheço? É esta minha mania de gostar de entender as pessoas por detrás do que escrevem. Beijos
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