29 fevereiro 2004

magia

A magia de um poema é o "momento" em que cada palavra se sintetiza em sentimento e emoção.

28 fevereiro 2004

apaga a luz, mamã

Pegaram na minha mão ao de leve e disseram-me, “ vem, vem viajar…”
Fui. (também quem recusa viajar, quando a mão que nos leva é a da nossa mãe?)
Apertei a mão e fui, com a alegria de ter todos os sentidos transformados em olhar.
Parámos em terras onde os rios se cruzam e seguem juntos, para mais além se envolverem noutro maior, como quem dá as mãos para ir viajar…
Imagino um vale de arroz, de tons verdes, de terras quentes.
Sentamo-nos a ouvir os rios que se segredam em música. (quando se viaja pela mão da nossa mãe, é obrigatório imaginar coisas e contar histórias com os olhos a pintar cores e lugares. Este cenário por exemplo, nos olhos da minha mãe ainda só tinha um rio, se bem que o outro corria mais à frente, onde esta viagem na verdade nunca aconteceu, a não ser muitos anos mais tarde, quando os olhares já eram outros, mas as cores essas, Deus meu, eram as mesmas.Já não sei quem conta a história, se eu, se a minha mãe. Eu sou capaz de afirmar de pés juntos e solenemente que quem a conta é o rio, em segredos murmurados e incontidos que se escapam em sons de flauta, que se transforma em brisa e ondula o arroz que ainda é espiga.)
Na paisagem (que já todos perceberam, se movimenta em bailado) em tons de girassol, cresce um circo. Tenda gigante de um só mastro, que não navega mas saltimbanca. Vi perfeitamente o mastro a içar, como Nau que ergue a vela ao som de marinheiros.Em artes de ilusionista entra em cena Saltimbanco louco, saltimbanco roto, que nunca ouviu falar de Pierrot e muito menos de Arlequim.
A criança, que era minha mãe, continuou a viagem com o menino por sua mão, neste palco onde o actor se comove com as cores e se perde em si mesmo, e do tempo, e do espaço, e já não sabe, ou não quer saber, que olhos viram a cena, se os seus, se o do saltimbanco, que apesar de roto e triste faziam rir a menina, apesar de tímida e quase submissa, onde só em sonhos se transformava em leão feiticeiro, em terras de OZ.(Já não sei se estou a contar uma história se estou a viajar, é tempo e lugar de por um ponto de ordem na narrativa, não vá o leitor desatento julgar que afinal não há história nenhuma.)Vimos também que o saltimbanco influenciou o imaginário da menina, que o já não é e a mim próprio, porque estou sempre a desenhar saltimbancos e também já o não sou (menino, claro). Já vimos que ao lado do saltimbanco (não vimos nada, mas é uma forma de continuar a história), apareceu uma menina de olhos verdes, tristes, porém sonhadores que se imaginava mil e uma coisas, mas naquele momento era ainda só personagem da sua própria vida, senhora das suas lágrimas e que só mais tarde seriam falsas, quando em espaços outros, onde o esplendor das luzes, é muito diferente das cores do cenário desta historia, ouviu senhora idosa em sons de aplausos, e sentimento nas veias, afirmar “ … as árvores morrem de pé.” (este contador de histórias é muito complicado, qual era o problema de dizer, assim de rajada, que a menina que assistia o saltimbanco sonhava em ser actriz e que já era senhora de uma enorme imaginação ? Mas não, arma-se em erudito e é no que dá).
O menino hoje não sabe ao certo como acabou esta história, até porque recorda fotografia antiga, de sua tia, menina, vestida em artes de teatro, naturalmente para uma festa da escola em terras onde lá mais à frente os rios se cruzam, e regam o arroz, e dão vida aos girassóis. Sabe também que a mão que o levou a viajar, é mão tímida porém sonhadora o que torna o final imprevisível. Mas como fomos todos crianças, não é difícil perceber, que a vida tem esta magia de dotar de vontade e de crer aqueles que tem a arte de não se ficarem pelos sonhos e serem o próprio sonho, que alimenta uma cadeia infindável de novos sonhadores, de novos lutadores, sejam eles saltimbancos, poetas ou actores, donde se conclui, que a menina pisa hoje aplausos, e que a outra, escondida em sonhos, imaginou-se um dia menos tímida a declamar afectos e a fazer poesia em histórias que contava à noite a meninos que vezes sem conta se esqueceram dos aplausos e no final apenas pediam, “apaga luz, mamã…”

27 fevereiro 2004

monologo de quem acorda, sem um narrador à mão…

Hibernei do Ser (ou de ser), sem angústias, nem lágrimas de aflição, como quem olha uma escarpa que se ajeita para receber o embate de uma onda gigante a desfazer-se em espuma.
Coloquei-me de lado, em gaveta sem chave a aguardar uma gota de Sol.
Esta manhã, acordei e reconheci-me no olhar e no Nome (ouvi-me claramente a dizer, em segredo interior – “ Nem tudo se perdeu”)
Fiquei intrigado e como não tinha narrador à mão questionei-me Eu próprio – “ o que perdeste afinal?”
Que pergunta imbecil, meu velho”. Disse ele, aliás … eu (o raio do narrador parece parvo, quando foi preciso pirou-se. Agora santa paciência, vá plantar batatas…) “Perdeste um pedaço de cor do quadro que não acabaste... “, disse-me.

25 fevereiro 2004

vagabundo

Gostava de conseguir ler um só livro de cada vez, mas sinto-me um saltimbanco de Vidas, vagabundo do sentir e do Ver.

24 fevereiro 2004

mergulho, escondido no horizonte

Peguei em folha de papel branco (está a tornar-se uma obsessão, o branco e o espelho. Resta-me encolher os ombros e resignar-me com o facto, outras obsessões virão, para me alegrar a criatividade.), dizia eu (estás a ficar chato, não há duvida), peguei em folha branca sem reflexos, sem introspecção e desenhei o horizonte, como quem limita o olhar. Por cima do horizonte esculpi uma gaivota em tons de aguarela suja de mar.
Afastei-me do papel, olhei a gaivota e esbati-me na linha que tracei, como quem mergulha na liberdade de pintar um quadro só com a imaginação.

23 fevereiro 2004

sem leme

Continuo a navegar, como criança à janela numa sala de aula em dia de chuva. Navego em barco alado à procura de uma história, de uma palavra que me empurre para o outro lado do vidro.
Navego com a força dos ventos, sem leme nem destino. Sou a própria caravela, que flutua nas cores de uma lágrima de chuva.

marinheiro de almas

Fiquei sentado a ver-Me partir e juntar-Me às folhas de árvore que insistem em colorir o imaginário de quem se sente bem com os tons de Outono.
Tonalidade que se sente no ar, em qualquer lugar, em qualquer hora e que se cola à pele (como humidade africana) e nos transforma em marinheiros de almas...

20 fevereiro 2004

disco riscado

Mesmo não gostando da música que emperrava em disco riscado, éramos impelidos, quase instintivamente a levantar a agulha, em toque ligeiro, para que em harmonia ela seguisse a sua função de libertar os sons de um caminho a percorrer (que a rapaziada mais nova me desculpe, eu sei que a imagem pode soar a anacronismo, mas a mensagem é também para vós).
Porque não nos impelimos ao mesmo gesto, com os que nos rodeiam, que muitas vezes gritam por socorro mesmo debaixo dos nossos ouvidos, e que apenas apelam para um pequeno gesto, um pequeno toque, um simples olhar? Será por estarmos desatentos aos sinais?
Será porque a solidariedade, andou a ser usada e gasta como quem cola na alma cartazes de propaganda politica, escondida em sorrisos cínicos?
Ou pura e simplesmente porque se deixou de ouvir discos de vinil?

19 fevereiro 2004

quando o pincel se põe a dançar o tango em mais uma noite de insónia

Invadiram-me o sono sombras chinesas a dançar o tango, em traços de bailarina russa. Acordado, imitei os traços em papel que só aceitou tons de sépia e azul ultramarino (este azul mora em selos em desuso em casa paterna, que me recorda serões de outros tempos e que não tem nada a ver nem com o sonho, nem com a bailarina, só mesmo com o azul, que me ficou na retina e me revisita quando o misturo com os sépias).

18 fevereiro 2004

chávena de café

Deambulo pensamentos em movimentos lentos de chávena de café.
Inalo recordações em matizes amarelo-laranja de sentimentos que a memória teima em fugir e que se prendem em aromas de jarra de flores em quadro de pinceladas livres no qual não me atrevo a fixar cores.

17 fevereiro 2004

a estátua

Ele embirrava com a estátua.
Todos os dias ali passava e insultava aquele menir de pedra escura sem expressão nem sentimento nem raios de beleza. Pura e simplesmente não gostava do volume que o incomodava. Era pura antipatia, que o agastava, que o envelhecia, que lhe roubava serenidade sempre que por ali passava, dia a dia , vezes múltiplas e sempre pares. Sentia ser o seu destino, irritar-se com aquela estátua, que não sabia sequer quem era, pois nome não tinha. Nome de artista, pior ainda, não tinha artista, e isso era uma certeza que ele levaria até à morte. Um dia, em que a angustia o tirara de manhã cedo da mordomia dos lençóis, saiu em horas frias e geladas, com tons de nevoeiro, leve no entanto, pois deixava que a luz iluminasse, para além do olhar e permitisse uma tonalidade azul cinzenta de aquecer o coração. Perdeu os passos, diante da estátua e “estatesiou-se” (palavra inexistente é certo, mas o que o narrador pretende transmitir, em dicionário da sua autoria é a imagem de transformar-se em estatua!) ele próprio frente aquele monumento, incapaz de fechar a boca que lhe caía de espanto.
Seria a luz?
Seria a forma?
Que raio seria?
Quem se atrevera a esculpir aquela obra de arte que o comovia que lhe enaltecia os afectos?
Estava confuso, porque tentava recordar-se das formas daquela coisa informe e a memória, não lhe reflectia senão a imagem que se detinha defronte do seu olhar. Não conseguia sair dali e ali ficou até meio da tarde, quando o nevoeiro se despediu, e percebeu que o que tinha mudado era“apenas” o seu olhar.

16 fevereiro 2004

castigo

Corri, tropecei e caí.
Sorri, porque sabia que não podia enganar o Tempo, e no entanto corri, como se fosse o ultimo minuto de sol, numa tarde de Inverno.
Castiguei-me com austeridade e não me levantei (cheguei mesmo a engelhar o sobrolho com jeitos de juiz severo, porém justo). Obriguei-me a olhar a vida, como quem se senta pela primeira vez num banco de escola a conter lágrimas, com arrepios de angústia.
Sentado no chão, fechei os olhos e deixei a vida correr, em imagens de filme mudo, no entanto não resisti em dar-lhe cor...

15 fevereiro 2004

cenário com um actor sem coragem para ousar

Se conseguisse, pintava um quadro com todas as cores que um reflexo de água pode imaginar.
Enceno o quadro. A luz, as formas e a dança com que me foge o pincel com as cores…
Não sei se é da música ou do bailado, mas há algo de errado entre aqueles dois que não param a dança, sem se darem conta que a melodia deixou de os acompanhar. As cores ficaram como que esmagadas entre os olhos, o sonho e a imagem.
Difusas.
Desfocadas.
Se eu quisesse muito, inventava as minhas próprias cores, e transbordava-me em sons que se infiltravam em todo o meu corpo e transformava-me em Quadro!

11 fevereiro 2004

pião de corda

Sinto a cabeça a estoirar de vazios.
Cheia de palavras desarrumadas, sem sentido. Como cego, que perde o apoio, os sons, as referências que o encaminham, (numa manhã fria de Sol com cheiros a orvalho), fujo do encontro de Mim.
Pego numa mão cheia de palavras e deixo as escorrer como areia da praia. A areia não cabe na mão, esvoaça, escoa em carícias, mas continuo a não entender o que as palavras me escrevem, em segredo, ao ouvido…
Sinto-me máscara moldada que se finge, que se engana, que se reinventa.
Sou pião de corda nas mão de menino, que brica sozinho num jardim. (Todos os jardins tem pombas, e este onde o menino me joga em pião não é original, mas responde por Estrela e guarda-se em recordações de infância, como móvel esquecido em sótão envolto em pó. Estrela que nunca vi, mas imagino talvez escondida por nuvem de pombas assustadas com o movimento brusco, porém belo, da corda do pião que se joga em Vida e em desenho que insurrecto se colocou em folha branca, datada e assinada e que se exibe em parede também ela branca, não muito longe daquele jardim que responde por Estrela!)

10 fevereiro 2004

sons...

Toquei sons de “violino-flauta”, que me dançou no corpo e moldou quadro de cores em forma de orquídea em campo de trigo ao fim do dia...

05 fevereiro 2004

num banco de jardim, à sombra de uma acácia rubra

Sentou-se em banco de jardim, como quem procura silêncios. Escolheu o fresco de uma sombra de acácia rubra e abriu livro de capa coberta, inibida, que se recusa expor a intimidade do nome, do título, dos ambientes e da relação com as letras que mantêm um com o outro. Calmamente, solenemente, degusta as palavras, ausente de tudo. Concentra-se na criação dos espaços que as palavras lhe sugerem, embebido na cumplicidade que a história lhe conta com os olhos.
Divertem-se, debaixo daquela enorme acácia rubra, deslocada no espaço e no tempo. Nem ele, nem ela pertencem aquele cenário. Só o banco e o livro parecem entender o paradoxo da interligação emocional daqueles dois.
Divertem-se, o homem, o banco, o livro e a acácia. Até o ar, fez o favor de não estar demasiado húmido, demasiado quente, demasiado quieto. É suave a imagem (bela, diríamos nós que os observamos).
Em continuidade (como aliás é o próprio destino. Bem sei que nem sempre é tão suave como desejaríamos, mas no entanto, continuo. Interminavelmente continuo!), surge personagem quinta, que aproveita a quietude do cenário, do banco e da sombra (que já entendemos não ser Sombra qualquer, porque rubra!) e senta-se.
Quebrada que foi a intimidade, esguelham-se de curiosidade, os olhos (ainda cheios de palavras, pensamos nós, sem no entanto interferir com a história que se desenrola à nossa frente) a interrogar, quem ou o quê, se atreveu a interpor-se e a interromper aquele momento sagrado? (adivinhamos que sagrado, só para os protagonistas,mas o melhor é deixarmos de ser embirrentos e deixar correr a história).
Surgiu homem idoso, de olhos grandes, fora das orbitas, interrogativos e irrequietos, que tudo olham, tudo aspiram (mesmo o nosso personagem se sente incomodado, porque fecha o livro com cara de enfado).
Olharam-se! Fundiram-se em incómodos (até o banco sentiu o que só nós vimos).
“Tem um lápis?” pergunta, o de olhos sôfregos de vida.
Sem sons, sem resposta ( e sem perguntas), entrega-lhe um lápis mendigo, sumido, quase sem bico (Ranhoso, mas fiel, pensou ele, dizemos nós, que continuamos intrometidos e chatos, a observar a cena, longe da sombra rubra e calma, como não é demais referir).
Num ápice, num instante que só o tempo sabe medir, o nosso estranho personagem, em papel surgido do nada (estávamos desatentos, não há duvida que perdemos o momento da chegada do papel. Ainda por cima, nem demos conta, mas é personagem sexta desta história), em gestos frenéticos começa a desenhar.
Traço, atrás de traço, nascem ruas, prédios e acomodam-se volumes em espaços que só ele sabe. E o papel cresce, e a cidade nasce, a um ritmo que deixa assustado o nosso leitor, que na verdade já o não é à muito tempo.
“ É arquitecto!”, pensou, “ talvez poeta?”, questionou. “Artista!”, convenceu-se!
A cidade que brotava naquele papel, sem parar, só podia ser obra de um arquitecto-poeta-artista!
Estava lá tudo, até um jardim de rosas, ruas inteiras a esconderem-se das árvores, das esculturas e dos prédios, em contrastes inimagináveis.
O frenético criador não parava, e o lápis era já dedos sujos, mas o universo de papel e de sombras não parava, tomando dimensões quase reais, até que,( num momento que não sabemos precisar, muito menos quantificar),TUDO PAROU! ( e quanto nos é possível observar, não foi falta de lápis, pois mesmo sumido, ainda riscava, encravado numa unha do artista).
O arquitecto-poeta-artista, parou assustado ( os olhos não enganam!), suado, louco, demente, apavorado!“ Que foi Mestre?” ( Nome muito mais adequado, temos que admitir, que esta lengalenga comprida, de Arquitecto-poeta-artista)“Mestre! Diga alguma coisa, por favor! Porque parou? Porque se assustou?”
Aterrado (e nós também, observadores passivos, é verdade, mas qualquer um se assusta com tamanha brutalidade no olhar, sobretudo vinda de um poeta), vê o Mestre agarrar no papel e em fúria, primeiro, em desespero incontido, depois, rasga-lo, estilhaça-lo, até não restar, sombra, janela, rosa ou árvore, daquela cidade, criada de um só folgo, de um só sopro!
“Porquê Mestre? Porquê?”
“ Não consegui, meu filho! Não consegui imaginar as pessoas com que gostaria de enfeitar a minha cidade. Falta-me a imaginação!”
A acácia moveu-se, a sombra fugiu, e os dois ficaram a olhar o vazio, sem saber que foram personagens de uma história que não estava escrita, e que se escondia entre a capa e forro, de um livro tímido, que não gostava de mostrar a intimidade a qualquer um, mesmo aquele que se senta num banco do jardim, à sombra de uma enorme acácia rubra que não devia estar ali…

04 fevereiro 2004

quadro inacabado

Só falta a musica, os sons, os tons, para terminar este quadro, que se encheu de saltimbanco palhaço, ilusionista, entretido a brincar com os sonhos, a fingir equilibrio, numa enorme mancha de tinta, cor de azul Picasso.

03 fevereiro 2004

reflexo

Não esperem demasiado de mim!
Não me inventem o EU!
Sou apenas aquele que se reflecte no espelho.

02 fevereiro 2004

definições ou simplesmente, pontos de vista

O Amor só pode ser branco ou preto, sem meios-termos.
O Branco, não sendo cor é certo, reflecte todas as cores todas as tonalidades, ou seja, ! Oferece cores sem fim aos olhos atentos que conseguem entender a medida do Dar, a subtileza equilibrada de cada sentimento, de cada gesto, de cada toque, que lhe percorre o corpo e a alma, sem pressas, sem tempo, sem direcção. O preto é amor também, mas “fobagico” !
Absorve, apodera-se das cores, afoga-as no seu corpo, não as deixa respirar, e mata-as em fome insaciável .
Pecado, não é ser vermelho, não é ser Paixão!
Pecado, é ser vermelho, paixão, quando pode ser multicolor e suavemente branco, recatadamente branco.

01 fevereiro 2004

ao acaso

Abro livro de poemas,
ao acaso…
Procuro repouso,
silêncios,
das angustias que me atropelam a alma,
ao acaso…
Viagem de ausências,
Abismos de sons,
da dor que me acalma.
Paragens.
Paisagens rústicas de cores vivas,
perdidas nos cinzentos,
poemas que fogem lentos.
Pensamentos,
ao acaso…
Verbos que se conjugam no Eu,
em sentimentos.Insatisfeitos,
parados,ausentes,ao acaso...
Viajo em folhas soltas,
de poemas,
de poetas.
Metamorfoses de luz que soluçam letras,
que se espalham,
que se esfumam,
ao vento,
ao acaso…
Ilusão,
poema de absurdos,
sorrisos que se escondem,
olhares de dor que escorre do peito.
Abro livro de poemas,
ao acaso…
sem jeito.
Naufrago em Mar de sargaço,
vermelho,
salgado.
Desenho que se amotina,
fora do quadro.
Embriagado,
ao acaso…

não uso tempos, nem agendas ou instrumentos outros que meçam pedaços do existir. é jeito meu. por isso passar de um ano para o outro é cousa...