11 outubro 2005

no desenho da calçada...

Passeio-me sem destinos, nas ruas da cidade grande, na cidade que me nasceu no Eu…
Procuro respirares e com eles o sentir da cor e do ir…

Sento-me,
onde os poetas sofreram, onde poetizaram a dor do existir e deixo-me abraçar, envolver, como quem pousa o cansaço no regaço de mãe.

Fico, entre a chuva e o vento…

Ah,
quando morrer quero ir com este vento e renascer na cor do rio-mar que me olha o horizonte.

Ah,
como queria, com desejo quase animal, ser o vento que leva a vela da nau, a bolinar…a bolinar no céu…

Passeio-me nesta cidade, onde a luz reinventa os cinzentos e as sombras em azuis, nas calçadas…

Sento-me,
onde os poetas choraram e deixo-me diluir na chuva que procura o mar e o fecunda…

4 comentários:

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

Sento-me, fecho os olhos e sonho...nem a chova que cai na cidade grande me rouba esta necessidade de sonhar...e fico assim...aqui sonhando...

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

Ressalvo: nem a chuva que cai...em vez de nam a chova.....

surpreendida disse...

Nos desenhos da calçada percorrida, aprende-se que com pedaços se constroem caminhos....
A chuva e o vento, dão força a um rio que corre para o mar, atrás do horizonte...
E a cidade mãe, que sente a tristeza, a dor, a alma de cada filho poeta...
Acolhe-o em terno abraço de mariposa e devolve-o à vida...

Menina Marota disse...

As tuas palavras fizeram-me recordar um poema, de que deixo aqui um pequeno excerto...


"Quando eu morrer, deixa-me
a ver o mar do alto de um rochedo e não chores, nem
toques com os teus lábios a minha boca fria. E promete-me
que rasgas os meus versos em pedaços tão pequenos
como pequenos foram sempre os meus ódios; e que depois
os lanças na solidão de um arquipélago e partes sem olhar
para trás nenhuma vez: se alguém os vir de longe brilhando
na poeira, cuidará que são flores que o vento despiu, estrelas
que se escaparam das trevas, pingos de luz, lágrimas de sol,
ou penas de um anjo que perdeu as asas por amor."

(Poema de Maria do Rosário Pedreira in O Canto do Vento nos Ciprestes)


Um abraço de boa noite ;)

não uso tempos, nem agendas ou instrumentos outros que meçam pedaços do existir. é jeito meu. por isso passar de um ano para o outro é cousa...