11 outubro 2004

palavras sugadas...

Quando os dias nos invadem e nos sugam o tempo, resta-nos vasculhar a imaginação numa espécie de malabarismo bi-existencial, para escrever uma ou outra palavra que nos salve o dia. Não tive outra alternativa se não retirar o escrito do já dito noutros espaços. Palavras que fui deixando no nocturnidade escritas por impulso e em dialogo. Reacções de palavras, a palavras. Sentires do lido, escrito por alguém que se esconde no escuro e o transforma em grito-poema. Ressurgem agora isoladas, desgarradas desse espaço. Incompletas, mas aqui ficam com um agradecimento à Cláudia que as inspirou:

Não me perco nas grutas, porque as sei cavernas, escuras de luz,
sem alma.
Não me perco,
não me encontro,
não me procuro.
Sou cenário sem sombra.
Como nuvem,
como chuva,
voo,
em queda,
não agarro,
não prendo.
Caio,
só,
sem me levar…
Mergulho na vida,
e
arrasto-a,
comigo…
Todos calam,
ouvem-me os gritos,
silenciam-se no negro,
aflitos.
Fingem que não vêem,
mas sinto-os.
Pegam-me,
devoram-me,
estilhaçam-me,
sem asas,
no lixo.

Burros,
imbecis!

Ah se soubessem as cores que o lixo tem!

Sem odores,
pinto-os,
prostitutos,
podres,
sangue-cor,
ocres…

Rio-me, palhaço,
Em azuis-jasmim-aço.

Caio,
mergulho,
em abismo,
mas sei-Me,
sou-Me
sozinho,

contigo…

6 comentários:

BlueShell disse...

...e que lindo! Só posso esperar poemas lindos em tons de cinza-cor-harmonia...
Quando o preto-nojo se impõe em nossas vidas...há que ter fé em tua escrita...
Bjs

o5elemento disse...

{ ... palavras deitadas aos ventos são como sentimentos perdidos nos teus alentos. © biquinha ... }

Fátima Santos disse...

ler/te/aqui/agora/hoje
mil sóis/o Universo/a tarde
a dor/(demasiada)
ler/te
rastejado/múltiplo/uno/Me/Nos
muros/lixeiras/cores/febres/neves
ler/te
desdobrar/desfolhar/abraçar
apoiar/pés nus/demandar
solitário/mudo/saber
amar/solta
ler/vida/te/agora/
louca/ler/solta
nada/tempo/nada

lique disse...

E reciclaste muito bem este poema que eu não conhecia e que tem todos os matizes de ti. A queda, o mergulho no lixo e a forma como consegues saber-te a ti, nessa solidão que proclamas. beijos

Fátima Santos disse...

Almaro, simplesmente...eu não mereço!!e, neste lufa-lufa de correr os blogs, de postar os postes, de encontar um fio, de alongar o(s) tempo(s),de fumar cigarros, de alongar estares, de fazer fazeres (de prazeres também), de amparar dores e amores...na vida...me ando perdida...zonzada...cansada...Terei(digo eu) que encontar um meio (com termo ou sem ele!) de ajustar gostosos estes "aqui estar(es)" ...tudo em volta de ter eu já sentido (lido?!)seres tu das letras um prezado amigo cheiravas a tinta, deixavas um traço...e, neste lufa lufa que "furar a a onda" ai! ai! ..só marulho corrido e baixo... encontrei teu blog registando traço! que tempo perdi neste descaminho, mas vou lá encontar um outro teu modo, (meu)também, de rezar!
PS eu não tenho tempo!!! eu preciso me organizar!!! HELP!! agora desenhos de perder o fôlego que me espicaçam a fazer de novo! e tempo?!!! vou dormir rsss
(e nunca mais me sorteia aquela Inconformada...inda mais essa!!)

musalia disse...

Lindo, o pensamento e a inspiração.
Beijinho.

não uso tempos, nem agendas ou instrumentos outros que meçam pedaços do existir. é jeito meu. por isso passar de um ano para o outro é cousa...