Agarrei pincel-paleta, sujo-brilho, de cores selvagens, misturados de invenção e cheiros dementes de coisas novas. Pincel-alma de desenho vivo, sem medo, aventureiro, criativo. Fotografia do ver e do sentir. Cores que contam histórias de fantasias, sem começo nem fim. É pincel quadro, surrealista. Janela aberta que adivinha lugares, gentes que se passeiam em cidades outras, que só existem no olhar, em danças-musica de assobios ao vento, num pontão infindo que penetra o Mar. Misturo-me nas cores e transformo-me em traço, em quadro de figura-mãe que abraça de lenço-véu, filho que lhe sorri afectos e vontades. A cor é só OLHAR, o desenho que me desliza no ver, tem cabelos onda em forma de cascata-alada-de-negros-sol.
Ao fundo, sussurram mares em vela-nau, que lembram destino-aventura, de Homens-história. Olho fixo. É apenas esboço, porque o quadro vive-se em cada reflexo que o imagina e o inventa. Esconde-se envergonhado em nevoeiros-cor que tímidos se recusam a ser apenas história de um pintor que só sabe imaginar cores em palavras tristes.
O que pode ser mais surrealista, que cor que se pinta sozinha, num esboço de mar-vivo?
04 julho 2004
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