19 novembro 2004

construtores de redes…

Sento-me num chão branco-sal a olhar os azuis entre redes por remendar.
Misturo-me nas cores de vidas-do-mar, em caminhos enrugados, de noites em branco, escuras de ventos, sozinhas no mar.
Pescam a vida sem horizontes, num horizonte, escuro de luar.
Olho os homens que se sentam, vergados, sem sonhos, a suturar malhas de ar.
Sonham lágrimas sem sal e que o mar os deixe sempre chegar.
Têm redes para remendar…

( numa rua de Sesimbra, em tempos já passados, trazidos num búzio que se fez ouvir baixinho, numa espécie de beijo escondido…)

4 comentários:

Lola disse...

Em tempos já passados andei por aí. E vem-me á memória um frase esquecida... :-)Esta frase é de um poema do Sérgio Godinho que ficará para outro dia. Hoje ofereço-te um texto meu de mar e de passado e de presente e de futuro...

(Pai)Olhos de Azul

num dia de paz
regresso à praia do meu desejo
regresso à luz e à cor da alma que possuo ainda
retorno a mim, desço ao fundo do mar
mergulho no oceano da paixão.

procuro em nuvens de pó
arrisco estradas de areia quente
guia-me o som mágico das sereias
conduzo por cima das crateras lunares

chego enfim ao paraíso reconquistado

a praia acolhe-me, reconhece-me, sou bem vinda.

Eu a minha tribo estamos em casa. Neste areal encantado escondidos do mundo, estamos parados no tempo. Não há rádio, não há toques polifónicos, não há aromas intensos e tropicais, saídos de bisnagas compradas na grande catedral de superfície de consumo.
Nesta praia dourada, não há ouro à volta dos braços das mulheres, nem rolex enfeitando os pulsos dos homens. Nesta praia dourada, adornamos os corpos com o verde macio e viscoso das algas e usamos o perfume do iodo e da maresia. Cobrimos a pele de areia e deixamos que as ondas nos lavem os olhos.


e tu chegas ao ouro que se faz da areia amada pelo sol.
e tu vens trazido pelo azul das ondas que embalam o teu sorriso tímido
e tu vens sempre que o azul do mar é igual aos teus olhos
e tu vens e abençoas a minha tribo
que é a tua.

E estamos contigo na tristeza infinita desses olhos que tão bem conhecem a palavra amar.

musalia disse...

O mar liberta, é a porta para o sonho...por isso o horizonte dos pescadores é infinito, não se compara a qualquer outro...
na solidão do mar, estão em casa, a alma enche-se desse amor que tantas vezes os mata. Sem ele, o mar, morreriam...

Beijinhos, Almaro.

BlueShell disse...

E eu sinto o ondular das ondas do mar que chama por eles e por ti...qual canto de sereia sedutora! E ouço teu coração palpitar ao receber esse beijo escondido.
...do tamanho da galáxia! Para ti.

lique disse...

Esses homens vão remendando as redes para que o mar possa continuar a enchê-las de peixe prateado, tal como nós temos que ir remendando a vida para que os sonhos não a abandonem. Beijos

não uso tempos, nem agendas ou instrumentos outros que meçam pedaços do existir. é jeito meu. por isso passar de um ano para o outro é cousa...