11 novembro 2004

o meu lápis, que nunca o foi...

No meio de uma escrita, que já não era minha, porque a pensava para outro, o meu lápis, o meu companheiro mágico, soltou um sussurro melodioso, terno, como quem abraça e disse-se assim, “ está na hora de ir…”
Olhei-o, sem perguntas.
Já estava à espera do momento.
Sabia-o, desde menino que aquele lápis, que renovava no mercado das cores mágicas, ao longo dos anos e do sentir, um dia, partiria sem explicações nem despedidas, simplesmente porque é mágico este meu lápis, sempre o foi…
Junta-me a essas palavras, embrulha-me nelas e põe-me a viajar…”
Olhei-o novamente, em voo no tempo numa revisita de sensações e de cores.
(É engraçado olhar para o meu lápis multicolor, cujo traço, bailava em tons nunca iguais, que me agarrava na mão e sonhava sozinho.)
Vezes muitas, desenhava-me um cavalo lindo e levava-me, de crina ao vento, em galope sem tempo nem destino, outras, mais raras, esboçava bailarina cigana, atrevida que me deleitava em prazeres exóticos e fantasias sem labirintos nem sombras.
Nunca o senti meu, apesar de ser o “meu lápis mágico”, porque sempre foi muito libertino.
Um dia, quando era só lágrima, descobri-lhe o querer: "semear uma suave serenidade em tons de felicidade…”
Pois que vá viajar…
Embrulhei-o nas palavras e voou-me.
Fiquei a ver, com um sorriso cúmplice, o meu lápis agricultor que semeia tons de cores que só ele sabe, a ir, cheio de irreverência...
Boa viagem…

9 comentários:

Anónimo disse...

me and my own moon!!

toma bem conta desse lápis! demasiado precioso para o deixares fugir....

(achei este blog por acaso, e fikei encantada com palavras tao belas e suaves...)

lique disse...

Essa leveza de deixar partir assim um lápis mágico, companheiro de uma vida, nem toda a gente tem. Mas tu deves entender a necessidade dele ir semear felicidade! beijos

Fátima Santos disse...

Almaro! sabes (deve ser...só pode ser da idade! sei lá...nem tem que ver) mas assim o que me apareceu na mente ao ler foi "que bom que deve ser ser sua filha...pequenina" e agora acrescento a esse expontãneo pensamento/sentir: e ele sentado a contar histórias de cores e letras que fugiam...enroladas em palavras...ele todo poesia e eu adormecendo sonhando fantasia! Abração!

BlueShell disse...

E ele vai, certamente, feliz...porque cumpriu o seu tempo e agora é livre! Tu mão o tiveste, mas ele teve-te: tu foste dele e continuarás a ser...onde quer que ele esteja tu serás parte dele...

musalia disse...

às vezes penso,a magia a quem pertence? De onde vem a magia? do sentir? do olhar? da mão que sonha o desenho, a cor? do estilete que grava a alma? ...
...do lápis que completa a mão, se une a ela e juntos cavalgam mundos, horizontes, distâncias...

Beijinho, Almaro.

Anónimo disse...

Encontrei por acaso o teu blog numa das minhas muitas viagens sobre o calor das palavras e fiquei feliz por existires. Por favor nunca percas essa capacidade de transformar objectos em pura poesia.Beijo grande e força!
Maria Lua
http://estoriasdelua.blogs.sapo.pt

Anónimo disse...

Encontrei por acaso o teu blog numa das minhas muitas viagens sobre o calor das palavras e fiquei feliz por existires. Por favor nunca percas essa capacidade de transformar objectos em pura poesia.Beijo grande e força!
Maria Lua
http://estoriasdelua.blogs.sapo.pt

Anónimo disse...

bem....essa viagem...
olha que eu tenho um lapis multicolor na minha gaveta ....melhor tres lapis multicolor...e mando-tos pelo correio!!
nani

rfarinha disse...

As melhores viagens que se podem fazer com o lápis terminam numa folha de papel que tinha memórias de ser branca e vazia ;) bjs

não uso tempos, nem agendas ou instrumentos outros que meçam pedaços do existir. é jeito meu. por isso passar de um ano para o outro é cousa...