27 novembro 2004

estante

Desenhei uma estante, esguia.
Escolhi o ponto de fuga, levemente ao centro. Traços verticais, primeiro (nada se faz sem arrimo, mesmo uma estante, esguia), depois os horizontes. Sete (é um gosto que tenho)! Uma estante com sete horizontes, portanto. Depois as janelas, (outro grado que tenho, poder espreitar e ver, mesmo que através de uma estante de sete horizontes). Finalmente os livros (é de livros a minha estante, outro prazer, meu). Livros, de histórias escritas, misturados por todos os horizontes, uns juntos aos prumos, outros, a desenharem janelas. Depois de tudo distribuído, tudo muito bem desenhado e colorido, sentei-me a imaginar os livros que ainda ali não estavam, e as histórias que a minha estante ainda tinha para contar.
Não cabiam.
Andavam a voar, aqui e ali, entre os horizontes, à procura das cores para se pintarem…

5 comentários:

Lola disse...

As estórias não cabem nas estantes que temos. Por isso. algumas, guardo-as na memória. Outras guardo-as no futuro. :-)

BlueShell disse...

As grandes e verdadeiras histórias...não cabem numa estante, Zé! Não podem ser confinadas a um espaço...elas vivem em nós! Nós somos a "sua estante"...e tu sabes...
Se fizeste uma estante...foi apenas para preencher o vazio da tua alma, ou para decorar algum pequeno canto escuro do teu espírito...não foi para lá guardares os livros...Esses pairam através de nós, em nós...e não se fixam, nunca!
...do tamanho da galáxia...

musalia disse...

sete horizontes, infinidade de tonalidades que se fundem em transparências...
há tanto para escrever...infinitamente....

beijinhos, Almaro.

Anónimo disse...

Imaginar a tua estante com sete horizontes, é por si só motivo para regressar aqui.
Uma semana produtiva, amigo!
àguasdemarco

Fátima Santos disse...

vinha eu aqui de ter lido ontem as estantes...deparei com o outro e nada é por meu sentir diverso...de vidro...transparentes...assimétricas...variam de um a outro a esquadria /todos/cada dia...e derramam livros de folhas coloridas /folhas mais que livros...esvoaçam soltas e por uma lei que esqueci caem aqui e ali e nunca vão voando voando voando ...espalham-se ali e além...ficam para mim olhando...e eu tonta arrumando livros e mais livros na estante /antes fosse, mesmo caindo, com elas voando...

não uso tempos, nem agendas ou instrumentos outros que meçam pedaços do existir. é jeito meu. por isso passar de um ano para o outro é cousa...