15 março 2005

talvez cegueira, talvez não…

Sinto-me só.
Não terrivelmente, nem angustiantemente...
Simplesmente só, ou serenamente (estado de alma, ou de sentir com que gosto de pintar os cenários do existir em jogos de absurdos e de silhuetas bailarinas).
No intimo, sinto-me só porque abandonado de memórias (aquelas imagens que nos moldam o carácter e que nos dizem o nome inteiro), como se de um momento para o outro apenas me restasse o Presente e os sucessivos instantes do" acontecer", condenado a reinventar os vazios que preenchem o (des)olhar. Uma espécie de torcicolo neurótico que me impede de olhar para o detrás de mim. Sensação inquieta de quem está em pontas de pés, de costas para um abismo e só lhe resta o defronte.
Talvez seja só hidropisia-de-caminhante-de-olhos-espantados que tudo arrasta, tudo limpa, talvez só cegueira, só cansaço, mas um homem só com instantes, é uma espécie de relâmpago, quando afinal, nasceu estrela, porque a luz da estrela é passado e a do olhar futuro…

5 comentários:

Fátima Santos disse...

imóvel desloco-me à velocidade limite que dizem ser luminosa e vou naquela solidão em que passado e futuro são um...imóvel eu...só u... na multidão do sempre...
ah! silêncio apenas silêncio ou serei surda ...louca?! abençoada seja essa loucura...

musalia disse...

espero que ainda te lembres de mim :)...
mas esse estado de "desmomorização" voluntária é bem necessário, às vezes.
beijos

Dra. Laura Alho disse...

Talvez seja só a alma cansada, à espera de um momento de repouso e de reabastecimento. Gestos simples talvez a possam reconfortar.

Não podemos é permitir que a cegueira ou o vazio se instalem mais tempo do que o necessário.

Um beijinho reconfortante.

almaro disse...

musalia: escrevi eu "voluntária" em alguma das entrelinhas?

Anónimo disse...

Poderia ter sido escrito para mim, para preencher o puzzle deste espanto que também se assoma da minha alma. Incrivelmente doce, nada destrutivo, apesar da perda que se sente nas solidões. A mim tocou-me e senti-o dessa forma. Beijo enorme.

não uso tempos, nem agendas ou instrumentos outros que meçam pedaços do existir. é jeito meu. por isso passar de um ano para o outro é cousa...