31 maio 2005

vagueações

Agarrei no cachimbo e deixei-me arder no sal, de olhos vagos, (fugitivos-das-lágrimas), a passear-me por dentro…

30 maio 2005

tempo(s)

Desenhei uma onda pendurada no céu em forma de cavalo-marinho-azul e que me sussurra histórias do vento.
Olho-a e o longe…
Voo-me a descoberta do Tempo que me coube...
Cabe inteiro no que vou gastar até me fundir no horizonte…

In “ apontamentos para um manual da serenidade", ou como mesmo que alguém resolva brincar com a nossa linha do horizonte, o nosso espaço-tempo cabe inteiro no nosso querer de ir sempre além…

29 maio 2005

pinturas em fim de tarde

Prendi-me às velas de um barco que se escondeu onde o mar e o sol escorregam, abraçadas ao mistério da Descoberta…
Sopro o vento,
a fingir-me caravela…
Voo,
em brancos-bruma,
e
sou,
Gotas-sangue,
de aguarela.

27 maio 2005

26 maio 2005

divagações

O desenho é como um poema, só a linha que o delimita na forma e exalta o sentir, tem vida própria, tudo o que fica fora dela só merece a invisibilidade…
As linhas e as letras para o poeta são uma e a mesma coisa.
Não sei escrever, nem sei desenho, mas sei poema, porque poema é de cada um e nasce no VER.
O que o rodeia são suposições que deformam o original. Só o original nasceu do SENTIR o que se segue apenas O provoca.

25 maio 2005

se a existência se resume ao" ter e não ter"...não tenho!

Não tenho invisibilidades…
Até a imaginação se põe a dançar com uma bailarina-borboleta (que se diverte em sombras), ao som de uma guitarra que se abraça a uma trompete que se finge piano e fala comigo em sussuros de feiticeiro africano...( colorido em tons de Malagatana)

24 maio 2005

o palhaço de D. Quixote

D. Quixote tinha um palhaço…
Não o era o Sancho, nem o próprio, o Cervantes, muito menos o Rocinante…
Era eu…só que cheguei atrasado à história…

de pernas para o ar

Nasci ao contrário ( com os olhos a fugir para dentro, numa tentativa vã de não existir na Luz).
Todos o sabem?
Não! Não todos, a mãe sabe, eu também, disse-o ela em grito de parto engasgado. Cansada.
Talvez por isso me sinta bem no Ver que se desenha no olhar, de pernas para o ar…
Só assim entendo e descodifico o Ser-Me…o resto do Todo, é artificial, articulado no Ver-em-câmara-escura ( sei eu e todos que na câmara escura a imagem anda por ali em bolandas de pernas para o ar para ser vista)
Eu vejo o sentir em fenómeno óptico…tudo de pernas para o ar, sem câmara escura…

23 maio 2005

A quem vai tendo a paciência de me ler fica o aviso que retirei a possibilidade de comentários em todos os espaços que criei…
Por cobardia,
dirão uns...
aceito ( digo eu, com a convicção que me assiste),
censura? Sim, assumidamente,
mas a verdade é que não me sinto com vontade nem disposição para receber insultos.
Que me inventem o EU, não quero saber. Não me interessa. Que o façam noutros espaços, é direito vosso, também não me interessa, mas não o permitirei que o façam neste espaço.
Este espaço, e os outros em que me escrevo ou pinto foram criados com um enorme prazer e existirão até ao momento em que me derem prazer.
É um direito meu.
Sou como sou, tenho sobretudo defeitos, por isso me isolo, por isso escrevo na minha solidão, no meu canto.
Fica um obrigado a todos os que me foram comentando, esperando que entendam que não tenho outra intenção que a de conseguir continuar a rever-me neste espaço, como meu, como reflexo do meu olhar e que só o conseguirei fazer se para tal tiver vontade.

silêncios

Pintei o silêncio a pó-de-giz.
Negro.
Fragmentado.
Há silêncios que se colam à pele como o nevoeiro-de-áfrica, denso, pesado e ferem a alma com uma lámina-sabre. Carniceira!
Despedaçam-nos, vivos-sangue sem uma única lágrima no olhar e um desprezo INTEIRO…

No entanto vou,
cego,
numa planura disfarçada de horizonte,
ébrio de VER…

22 maio 2005

puzzle do eu

Se estás incompleto, só existes nas partes…
Procura-te nos fragmentos e soma-te no UM…

In “ apontamentos para um manual da serenidade” ou como há dias em que o importante é encontrarmos pedaços do Eu, reconhecidamente nossos e não perdermos tempo em dizer-lhes “ sejas bem vindo”…

21 maio 2005

queda(s)

A Vida é uma espécie de QUEDA inconstante, em permanente transmutação e que finge fugir da Morte…

Levanta-te!
Dá um passo!
UM!

Fizeste FUTURO!

20 maio 2005

roubo

Roubaram-me o dia.
Sumiu-se, sugado por uma palhinha…
E
eu,
ali,
a inventar-ME cores…
A vê-lo IR…

19 maio 2005

bancos-de-jardim

Espalhei passos (meus) em acasos de fim-de-tarde, cansado, em Jardim-Pintado-de-Novidade (com salpicos-coloridos, a espreitar os verdes e a murmurarem conversas soltas como só eles, o vento e os poetas-pintores entendem e sabem).
Sentei-me em Banco-de-Jardim.
Branco-Pedra.
Frio.
Os bancos de jardim, mesmo novos ( como este que me abraçou o olhar e o cansaço) são ouvintes, ao acaso, nos ocasos dos destinos que soluçam, engasgados, os desencontros da vida, num jogo de dados ou de cartas, ou em jogo nenhum, porque a solidão afinal não o é (jogo), é sim uma pergunta contínua que joga à escondida com a resposta. ( desculpem, os que têm o azar de se passear nestes labirintos escritos, mas quando nos paramos, mesmo sentados, o pensar não pára e confunde-se na inércia do existir).
Sentei-me.
Repito...
Cansado (ainda) no banco-branco do jardim…

Os bancos dos jardins, mesmo os de pedra, novos, são desenhadores de rugas…

As rugas escorregam-se quando nos sentamos nos bancos dos jardins a olhar o horizonte que nos passou no Ver quando não nos sentávamos, cansados, nos bancos de Jardim…

18 maio 2005

engano(s)

Recortei, as minhas sombras, uma a uma com tesoura e bisturi.
D e s c o l e i – a s .
Não me sabia tantas !
Entornei-lhes transparências e joguei-as no mar (sempre tiveram tendências navegantes, estas "alter-sombras")…
Olhei-as, sopradas pelas ondas e imaginei no desenho, uma nuvem de gaivotas a segui-las em manto-branco-trompetista, até ao horizonte, mas não vi nenhuma gaivota, nem mesmo no longe…devo-me ter enganado nas sombras…

17 maio 2005

interlúdio poetico

A Cláudia , capitão Mantras do Nautilus vai dizer poesia ( como só ela sabe), dita com o olhar no , dia 21 de Maio, pelas 18 horas, na Fnac do NorteShopping, no lançamento do livro de poesia A NUVEM PRATEADA DAS PESSOAS GRAVES, de RUI COSTA , das Quasi Edições.
Apareçam, porque tenho a certeza de que vão gostar muito do livro e da forma ouvida em que se transforma a poesia sentida pela Cláudia.




também podem aparecer em Aveiro no próximo dia 25 ás 21,30 na Feira do Livro

16 maio 2005

distracções , (in)consequentes

O céu caiu!
Todo!
Desamparado,
desarrumado.
Desprendeu-se dos azuis e tombou trôpego-cinzento, pesado como um cobertor-de-papa-molhado-das-lágrimas-da-nascente-do-Nilo …
Eh! Oh de cima, então?
Vá de içar isto, que coisa assim não é de baixo é de cima!
Vá Iça!
Isso!
Devagar…
Alto! Mais à direita…sim…mais um pouco...ÔH!
Iça!
Iça!
Isso!
Como andam distraídos, vai uma pessoa a passar e pimba!
Chiça!

15 maio 2005

isto hoje não é para ler

A Lua nasceu de pernas para o ar.
Fiquei a vê-la, parado, a derreter-me extasiado em tentativas de desenhar o visto e a ouvi-la rir-se de mim em gargalhadas trovelescas ( burlescas?)…
Pode rir-se à vontade, mas desenhar a Lua de pernas para o ar é cousa importante e ÚNICA!
Sempre pensei que AZUL era AZUL, AMARELO, AMARELO, mas VER, AZUL ou cor qualquer de pernas para o ar é cousa SURREALISTA!

Vou telefonar ao Cesarini e pintar uma fonte, fiquei cheio de sede de me interrogar sem olhar resposta...

Nota: a alusão a Mário Cesariny ( quasi me esquecia do y ), não tem autorização do autor , mas fica a imagem ou o sentir de uma conversa de surdos, porque afinal de contas está tudo virado de pernas para o ar...só a fonte, dá vida e corre para o mar...

14 maio 2005

traz todas as tuas tintas, não escolhas nenhuma e deixa o sentir pintar-te

Queria tanto desenhar,
letra
por
letra,
toda a poesia que se pinta-de-olhares na minha estante-inclinada, gravada no sentir por linhas finas,
fundas,
como que pendurada no estendal a dançar,
colorida
qual folha de Outono a pingar da árvore, desprendida

Ah, isto de se querer mais do que a vida é um desencontro ininterrupto, sem tamanho que cabe inteiro na contradição de estarmos presos no tempo em voares de colibri...

13 maio 2005

quando as minhas lágrimas ( também elas), choram

As lágrimas ausentam-se de mim,
uma
a
uma,
gotas de tempo
sem espaço.
No rosto,
laminas frias de aço,
uma
e
uma,
todas,
num mar de sargaço
sem fim …
Aguada de cor,
pintada na dor,
sem abraço.
Rio sem destino
nem memória,
gaivota ferida,
caída,
assim
no branco-cal,
em folha que escrevi,
sem história.
Ver que não vivi,
desenho-te,
esboço
de
risco fosco,
sinal-sombra em mar acido…
Fel
que
tomba
na
pele
que tece
e arde
no sal
que desaparece
em mim…

12 maio 2005

aveiro, hoje

É dia da cidade.
De festa.
Dia de Joana.
Santa.
Tocam os sinos, a fanfarra…
Há perfume a pipocas,
algodão,
foguetes.
Discursos aqui,
ali,
com sentido e não
palmas ali,
aqui,
sentidas,
ou sem emoção,
joguetes...
É dia de festa,
de cores,
procissão.
Pandeiretas,
pandas,
como velas,
ao vento…
Afasto-me,
lento.
Sou moliceiro navegante,
enfunado de levante,
barco perdido,
distante,
ao relento..

11 maio 2005

terras de memórias

Caí em abismo, nos sons de África, a cavalo numa trovoada que me “tempestou” a noite em sonho escondido do Eu.

Batuque
longo
no fundo da noite,
feiticeira monge,
num
tuque
tuque
que foge
se tinge,
em sangue de sangue
ao longe,

Espreitei a magia que me abraça em cores-de-terra-memória, com o desejo de me esfumar lento-longe nos seu horizonte.
Finjo-me vento,
sinto-me terra.
Vermelha-de-dor a evaporar-se em Vidas.

Formigas.

Caí em abismo,
desamparado,
estilhaçado em relâmpago perdido na noite que não foi dia,
foi “cousa” rasgada, ferida…

10 maio 2005

inaptidão

Saí cedo para a escola, ia com o ver à frente dos passos, pejado de importância e de sentido.
Era o meu primeiro dia.
Razão havia que transbordasse, afinal ia aprender a falar com o vento.
Triste ilusão, não estava habilitado!
Disse-me o Mestre, num s-o-l-e-t-r-a-r vagaroso , que sou muito novo, para a aprendizagem de talha tão complicada. Primeiro tenho que saber falar com os pássaros (afinal os pássaros voam , não por ter asas, mas por saberem falar como vento, os malandros…), só depois estou apto para o estágio . Mesmo assim, não garante, disse-me, porque o ideal mesmo, era saber pintar a linguagem das nuvens…

09 maio 2005

pinturas

Esta noite , num cantinho da noite, choveram lágrimas de polén e o dia acordou pintado de borboletas bailarinas…

08 maio 2005

coisas de amor

Aviso desde já,
conhecidos, e outros,
anjos e anjas,
incautos ou pensadores
que quem escreveu o que se segue não percebe nada do assunto,
não é teoria,
nem verdade inteira,
nem tão pouco pedaço dela.
Não peçam explicações nem desenho.
Explicação para o sentir não há e o desenho é difícil, como sério, é pintar uma lágrima cristalina de mil reflexos, cada um com cor diferente, e ao pintor só lhe ensinaram sete,
não mil.


escreveu-se, o sentir assim ( o tal do aviso):


Não entendo porque é que a pessoa a quem se DÁ amor (só mesmo um humano, tem este tipo de problema existencial, todo o resto da existência é muito menos complexa no sentir), só se satisfaz se ouvir dito ou escrito (mas sobretudo dito, vezes muitas) AMO-TE!"


Não entendo!
O amor não está na palavra, transborda nos gestos e no olhar…

07 maio 2005

(des) encontros ou uma viagem à essência das coisas

Encontrei um menino, que não via desde que dei um pulo no país do desenho, onde se pensa e sente sem ordem de prioridades. Este, sempre foi especial e anacrónico, talvez por ter existência de índio e cabelos azuis-noite-prateados-de-lua ( e que me conste nunca andei por terras de índio). Passeava-se com olhares de quem procura um lugar esquecido. Tinha nome de olhar, Olhos-de-colibri, porque se perdia nas cores das flores e falava com elas, sempre apaixonado por cada uma. Deu-me um olá indiferente e seguiu na procura. Desapareceu na aguarela, esbatido nos azuis de um céu que nasceu já pintado. Não o via há muito tempo, porque há muito que não tinha um instante destes, de viver noutro espaço, ausente do corpo e da existência que nos contornam o VER, como uma aguarela que é cor e agua e tem a serenidade da sabedoria de ser poesia sem palavra, nem desenho…

05 maio 2005

dúvidas...de peso...

Papá, Papá diz-me, porque me pesam tanto os olhos, porque me dói tanto o andar?
Porque, o que não quiseste ver e os passos que não quiseste dar te pesam e te prendem…E não quiseste porque te distraíste com o Todo . Ninguém consegue carregar com o Todo em vez só, o todo constrói-se!
Mas papá , estou tão cansado! Só me apetece fechar os olhos e sentar-me no escuro. Estou tão cansado Papá...
Se olhares para uma formiga perceberás que cada uma leva um grão de cada vez. Estás cansado porque queres agarrar tudo com o olhar, num só dia. Assim perdes quase tudo. Deves ser inteiro, como cada dia é inteiro, só assim consegues ser sempre tu em cada dia que te olha e te caminha no Ver. Por isso fechas os olhos, por isso páras de caminhar, assim é o teu não querer que te orienta, não o teu querer. É o teu não querer que te pesa!...
Mas é tudo tão bonito, papá.
Só é bonito o que te cabe no olhar. E deves ter olhar para cada um dos teus dias. O rio não desagua todo de uma vez no Mar...
Está bem papá vou pintar um dia de cada vez…mas à noite posso sonhar não posso ?

04 maio 2005

desenhar uma semente

Tracei uma linha contínua, não lhe sei início, nem fim.
É um retrato.
O teu, com reflexos de azuis-noite-em-dia-de-brisa-suave-e-estrelas-navegantes.
Pintei-o, como quem se enche de universo e fiquei sentado ver-te partir…
Há cores assim que nascem pequeninas e tomam o tamanho inteiro de um destino…
É um retrato.
O teu…
Meu, só o maravilhar de te ver Ir com a suavidade de uma gaivota que abraça o mar…

03 maio 2005

conversas sérias com a papoila que acordou num dia que não devia ser o dela

Queria tanto ser uma árvore…
Ouvi ao longe numa espécie de choro cristalino. Olhei mas não vi de onde...
Estás a ouvir-me? Queria tanto ser um árvore, mesmo que seja uma das pequeninas…
Oiço, sim, mas repito-me, não te vejo…Eu sei que tenho andado distraído com as minhas pontes, com as minhas viagens, com os meus cansaços, mas na verdade só te oiço, estás longe do meu olhar…
Estou aqui, em baixo, sou a tua papoila…

Mas porque razão queres ser árvore?
Queria tanto ver coisas outras…e ter o tempo todo de uma árvore…
Ensandeceste! E a cor? A cor de papoila? Que fazias à tua cor de papoila, à tua delicadeza de seres quase seda, a de seres a primeira flor dada a uma mãe, a de seres a primeira flor dada com amor? Ninguém agarra numa árvore e a oferece pintada de papoila! Por ventura já gastaste o teu Tempo? Que eu saiba renasces todo o ano, em sítios diferentes…viajas com o tempo e na terra que te dá a cor. Essa cor é só para ti. Esta árvore que te dá sombra come da mesma terra que tu, e não se pinta de papoila, pinta-se de árvore…
Deixa-me sozinha, sim…continua distraído com as tuas pontes e deixa-me com o meu sonho…
Mas deves viver o teu sonho, não deixes é de te viver papoila!

01 maio 2005

pianos...vivos

Nunca tinha desenhado um palhaço apaixonado por um piano, abraçado entre os brancos-negros da melodia e o colorido do seu olhar...
De trompete, de violino, de pandeiretas e tambores,
muitas,
de piano,
nenhuma.
Hoje saltou-me um, no desenho, mas não lhe dei nome...
Um palhaço não deve ter nome.
Uns tiveram, Pierrot , Arlequim, mas esses não eram bem palhaços eram poetas, palhaços foram só as imitações que se teatralizavam em gestos premeditados do rir .
O meu não tem nome, é inimitável…

não uso tempos, nem agendas ou instrumentos outros que meçam pedaços do existir. é jeito meu. por isso passar de um ano para o outro é cousa...