01 setembro 2004

distrações

Visitei o ( meu) rio.
Estava parado, com uma pele verde, opaca de luz.
Pensei serem os verdes das árvores reflectidos, petrificados, estáticos por tanto se olharem nas águas do rio. Não gostei do sentir a que o pensar me levava, porque árvore é arvore, não narciso.
Olhei fixo aqueles verdes, cheio de interrogação no ver.
Porque me paraste? Perguntou-me o rio
Eu?
Sim tu!
Mas eu não te parei, tu corres, bem sabes que corres para o mar. Oiço-te. Por debaixo dessa tua pele verde, opaca, corres…
Ouves, mas não me vês. Deixaste de me olhar quando me roubaste o verde e o levaste contigo. Levaste-o todo, só para ti e desinteressaste-te de mim. Quero maravilhar-te com outros verdes.
Não! Eu gosto dos teus verdes, os teus verdes são os das tuas árvores, das tuas águas, da tua luz! É dos teus verdes que eu gosto!

Se gostas tanto dos meus verdes, porque deixaste de te maravilhar comigo?
Porque dizes isso?

Porque passas por mim, já com todos os verdes no teu olhar e não deste conta da minha tristeza, por sentir que sou apenas a tua paisagem…

1 comentário:

Anónimo disse...

É como se criássemos em nós mesmos o nosso mundo, roubando pedaços ao exterior. É então que nos centramos narcisicamente, sem ver que afinal existem outros verdes...

Miss K.

não uso tempos, nem agendas ou instrumentos outros que meçam pedaços do existir. é jeito meu. por isso passar de um ano para o outro é cousa...