06 dezembro 2004

aguadas

A sombra pesa-me no olhar.
Transpareço-me em aguarela, de aguada em aguada. Esquisso de mim que persiste em esmagar-me a cor.
Segue-me, escura, pesadamente fina, em película de terra negra, suja…
Agarro-a!
Estendo-a ao sol!
Gargalho-a com humilhação no rir libertino, ao vê-la evaporar-se, leve, numa nuvem descolorida em fuga desencontrada, para o mar…

Os comentários lidos até ao momento deixaram-me preocupado com o sentido e o (des) sentido que as palavras tomaram.
Não é a primeira vez e não será certamente a última, que elas (palavras) me fogem do sentido, do meu. Por isso gosto tanto delas.

Expliquemos então o escrito, como foi sentido no instante em que tomou forma:

Acordei confuso, com se uma sombra me retirasse o olhar, o entendimento. Coisa normal, quando se acorda cedo e se dormiu pouco. (A sombra pesa-me no olhar).
Tentei entender-me, descobrir a causa (daí o translúcido) quanto mais transparente menor é a sombra que se projecta, quanto maior for o entendimento menor será a sombra. Como sou homem das cores imaginei que essa clareza pudesse ser representada por cores de aguarela, normalmente mais claras, logo mais translúcidas. De aguada em aguada, representa as várias tentativas de aclarar as cores.
O esquisso de mim, é o esboço que a sombra reflecte no chão ou na parede, não é relevante, só falo no chão por causa do dito seguinte. Escrevo que mesmo assim, o raio da sombra me persegue e sombra que se preze, esconde (esmaga) a cor. ( a ideia do texto foi a de dar peso à sombra, que obviamente não o tem, pelo menos mensurável)
“Segue-me pesadamente fina”, não necessita de explicação, aqui as palavras ficaram agarradas ao seu significado.
A película de terra suja, é a imagem que tenho da sombra, e como de seguida a vou pegar, tive que previamente a transformar em película. Terra suja, é só para acentuar o escuro da sombra.
Estendo-a ao sol. Foi o que fiz. Quando se lava a roupa põe-se a secar.
A imagem e o acto, deu-me vontade de rir. Um rir libertino, porque libertador. (hoje a palavra”libertino” e o sentir associado não me largaram o olhar depois da sombra partir) Já imaginaram a vossa sombra pendurada num fio a secar???? Eu ri-me até ela se sentir humilhada, porque o riso teve a arte de a fazer desaparecer. Evaporou-se e pronto.
Quando há vapor há nuvem e esta de tantas tentativas que teve minhas para se descolorir ficou assim mesmo, descolorida. Para o mar vão e vem, as nuvens…
Posto desta forma, já não há mais explicações a não ser o porquê de me sentir assim libertino, mas isso não explico, é só meu…

4 comentários:

Anónimo disse...

então?o lápis multicolor fugiu novamente?
olha que tenho mais dois!!!
experimenta molhar-lhe o bico que as aguadas desse são todas da cor do sol!!
beijos
nani

BlueShell disse...

Deixa-a ir...
Hoje...não sinto; nada me abala! Nada me diz nada!
BS

musalia disse...

afastaste a sombra, dilui-se na luz...efeito do riso libertino, de hoje?...

beijinhos, Almaro.

Lola disse...

Quando leio os teus textos fico com aquela sensação colorida como quando olho para um daqueles bonecos em forma de mocho que mudam de cor conforme os humores do tempo. De rosa a azul, de frio a calor, de tristeza a alegria de dia a noite, de amor a desamor. Vou descobrindo os teus caminhos. Hoje, não descubro a tua cor. Gostaria de ser mais metafórica, mas para ser mesmo verdadeira, não percebi nada do teu texto. Sorry, deve ser de mim:-)
Um beijo e uma estrela :-)

não uso tempos, nem agendas ou instrumentos outros que meçam pedaços do existir. é jeito meu. por isso passar de um ano para o outro é cousa...