Era uma árvore feia, escondida entre muros do quintal.
Escanzelada.
Talvez da enxertia, talvez da sua insignificância, ali estava, Inverno após Inverno em silêncios, na sua solidão de ameixoeira.
Nem o vento a acariciava em brisa e o sol só quando feria, a visitava.
Talvez por tudo isso era feia, a ameixoeira do quintal.
Em jeito de grito, resolveu carregar de frutos os seus frágeis ramos até não poder aguentar o peso da sua desesperança. Um a um foram partindo, amputando os braços, as mãos e os frutos num silêncio de indiferença.
Tivesse decidido o seu grito em ano outro e tudo seria diferente, mas este, foi ano de angústia, de doenças várias e o quintal ficou sem os sorrisos, sem os olhares, tempo de mais.
Quase morreu, infectada de fungos, de talas de emergência e a sua feiura já de si saliente, estilizou-se em apelo, em socorro numa tentativa desesperada de cativar olhares.
Cativou.
Com carinho, falas muitas, de serrote na mão, lá se aparou o esqueleto enrugado e perdido, da ameixoeira do quintal.
Não sei se foi da conversa, ( ou das confidencias trocadas) se da debilidade, se da feiura, ou pelo simples facto de ter ouvido os seus gritos, mas os olhos, os meus, regressaram cheios de preocupação e de laços.
Quando voltar da cidade grande, o meu primeiro olhar será para a minha nova amiga…
É tão bonita a ameixoeira do Quintal…
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7 comentários:
É bonita, sim...e tu sabes que o teu olhar não mente. Porque é um olhar puro, casto, inigualável em transparência. É um olhar que constrói, que dá vida...alento...só pode ser, que eu sei!
...do tamanho do Universo
BShell
Engraçado.. Era a minha árvore preferida do quintal. :)
por vezes os olhos deixam de acariciar e surge a solidão, sem nos apercebermos. foi o que aconteceu à tua ameixoeira...
o teu olhar atento, fará com que renasça...
Beijo grande, Almaro
Gosto de braços e abraços que rimam com laços.
Gosto desta foto e da força dos laços que se criam entre abraços.
http://www.michal-macku.cz/gel-44.htm
oh! Almaro! antes de ler ali o teu zangado comentário, escrevi aqui um texto...perdeu-se. Acasos, diria eu se me tal acreditasse! Nesse texto dizia referia a importãncia dos olhares e falava-te de uma árvore que ue tive quando era pequininina e que dava uns frutos vermelhos de onde escorria mel. falava-te da facilidade com que apele saia e ficava na minha mão uma coisa redonda rosada que espraiva reflexos lilazes e escorria vermelho pelo bibe depois de besuntar mãos, boca e pescoço1e perguntava se seria a tal fruta mesmo isso ou se seria apenas o meu olhar de agora a dar-lhe esse sentir de fruto. (mais ou menos isto o que escrevi e perdi) Escrevo tanto assim porque gostei do teu zangado comigo...em parte somente...mas certeiro. Não me vou desculpar pedir perdão, apenas porque, Almaro, o texto saíu de um "olhar" que traduziu de mim aquela imagem e por isso naquele momento ele foi decerto o sentir que aqui andava.
Um abração por te teres zangado comigo!:)
E no entanto essa árvore resistiu... era mais forte do que julgava... não teremos nós algo dessa árvore...? ;) Bjs
Tudo pode voltar a ser bonito quando é rodeado de carinho e atenção. Como a ameixoeira do teu quintal.
Que no ano que vai começar continues a espalhar esse teu olhar tão especial e que a felicidade te rodeie! Beijos
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