29 dezembro 2004

a ameixoeira do quintal...

Era uma árvore feia, escondida entre muros do quintal.
Escanzelada.
Talvez da enxertia, talvez da sua insignificância, ali estava, Inverno após Inverno em silêncios, na sua solidão de ameixoeira.
Nem o vento a acariciava em brisa e o sol só quando feria, a visitava.
Talvez por tudo isso era feia, a ameixoeira do quintal.
Em jeito de grito, resolveu carregar de frutos os seus frágeis ramos até não poder aguentar o peso da sua desesperança. Um a um foram partindo, amputando os braços, as mãos e os frutos num silêncio de indiferença.
Tivesse decidido o seu grito em ano outro e tudo seria diferente, mas este, foi ano de angústia, de doenças várias e o quintal ficou sem os sorrisos, sem os olhares, tempo de mais.
Quase morreu, infectada de fungos, de talas de emergência e a sua feiura já de si saliente, estilizou-se em apelo, em socorro numa tentativa desesperada de cativar olhares.
Cativou.
Com carinho, falas muitas, de serrote na mão, lá se aparou o esqueleto enrugado e perdido, da ameixoeira do quintal.
Não sei se foi da conversa, ( ou das confidencias trocadas) se da debilidade, se da feiura, ou pelo simples facto de ter ouvido os seus gritos, mas os olhos, os meus, regressaram cheios de preocupação e de laços.
Quando voltar da cidade grande, o meu primeiro olhar será para a minha nova amiga…
É tão bonita a ameixoeira do Quintal…

7 comentários:

BlueShell disse...

É bonita, sim...e tu sabes que o teu olhar não mente. Porque é um olhar puro, casto, inigualável em transparência. É um olhar que constrói, que dá vida...alento...só pode ser, que eu sei!
...do tamanho do Universo
BShell

Pecola disse...

Engraçado.. Era a minha árvore preferida do quintal. :)

musalia disse...

por vezes os olhos deixam de acariciar e surge a solidão, sem nos apercebermos. foi o que aconteceu à tua ameixoeira...

o teu olhar atento, fará com que renasça...

Beijo grande, Almaro

Lola disse...

Gosto de braços e abraços que rimam com laços.
Gosto desta foto e da força dos laços que se criam entre abraços.
http://www.michal-macku.cz/gel-44.htm

Fátima Santos disse...

oh! Almaro! antes de ler ali o teu zangado comentário, escrevi aqui um texto...perdeu-se. Acasos, diria eu se me tal acreditasse! Nesse texto dizia referia a importãncia dos olhares e falava-te de uma árvore que ue tive quando era pequininina e que dava uns frutos vermelhos de onde escorria mel. falava-te da facilidade com que apele saia e ficava na minha mão uma coisa redonda rosada que espraiva reflexos lilazes e escorria vermelho pelo bibe depois de besuntar mãos, boca e pescoço1e perguntava se seria a tal fruta mesmo isso ou se seria apenas o meu olhar de agora a dar-lhe esse sentir de fruto. (mais ou menos isto o que escrevi e perdi) Escrevo tanto assim porque gostei do teu zangado comigo...em parte somente...mas certeiro. Não me vou desculpar pedir perdão, apenas porque, Almaro, o texto saíu de um "olhar" que traduziu de mim aquela imagem e por isso naquele momento ele foi decerto o sentir que aqui andava.
Um abração por te teres zangado comigo!:)

rfarinha disse...

E no entanto essa árvore resistiu... era mais forte do que julgava... não teremos nós algo dessa árvore...? ;) Bjs

lique disse...

Tudo pode voltar a ser bonito quando é rodeado de carinho e atenção. Como a ameixoeira do teu quintal.
Que no ano que vai começar continues a espalhar esse teu olhar tão especial e que a felicidade te rodeie! Beijos

não uso tempos, nem agendas ou instrumentos outros que meçam pedaços do existir. é jeito meu. por isso passar de um ano para o outro é cousa...