21 dezembro 2004

(com) fusões

Tenho esta tendência amarga de me ingerir em sabores exóticos e de não saber por onde ir, transformado em nevoeiro-cinza-azul, de um cachimbo que insiste em sussurrar-me palavras que não ouso sentir…
*
Em mim?
Noutro?
Não!
Sou um "passo-pássaro" que olha o Eu que não Me diz.
Por isso vou.
Sempre.
Nem sempre em voo…
Mas estou aqui,
em mim…
Outro?
Não!
Só se morto!

*escrito em guisa de comentário, agora revisto e rescrito, em à luz de uma vela

Não gosto de explicar o que escrevo, porque o escrevo sem explicação, mas quando percebo que me escondi em demasia nas palavras sinto essa necessidade, não vá um de vós tratar mal as palavras que me fizeram companhia no instante de me saltarem do ver, por isso aqui fica o meu olhar dissecado:
Estava sentado no meu espaço com um livro de Lobo Antunes na mão e fiquei parado a pensar, num ausência completa. Fumava o meu cachimbo ( engolir sabores exóticos) transformado em fumo ( nevoeiro-cinza-azul) , sem saber por onde ir ( tentativa de retrato de uma ausência).
Quando fumo cachimbo, tenho o hábito de fantasiar histórias enquanto sigo o desenho do fumo (sussurrar-me palavras que não ouso sentir).
A segunda parte foi um comentário que deixei no “À Luz de uma Vela” e foi inspirado na leitura de um verso lindo da Ridufa, mas tem a ver com a primeira parte do texto.
Pretende questionar o seguinte:

O que fantasio, existe em mim ou noutro eu que me habita?
Respondo, decubro-me, que não existe um outro, que sou sempre eu, mas um pássaro (sonhador) que voa que interroga a sua essência à procura de um Eu escondido.
Por isso caminho (procuro, vou), mas nem sempre no sonho( nem sempre voo),mas sempre comigo e com os meus princípios, com o meu querer.
Ser outro?
Só depois de morto (revela, sublinha, a minha teimosia em ser EU)
Foi isto que se escreveu naquele instante, e não coisa outra...



3 comentários:

Lola disse...

Vai nos sabores exóticos. Vai morto. Eu estou viva, graças a tudo o que faço
por mim.

red hair disse...

Antes as tuas (com)fusões exóticas que aqueles outros, sem nexo, a que eu chamo devaneios! ;)(P.S. Mas fizeste bem em explicar! Estou a ficar loira!)

Lola disse...

Já percebi o teu texto. Não foi preciso ler a explicação. Bastou ouvir o fumo do cachimbo. De repente veio-me à memória uma frase esquecida... Hoje é o primeiro dia do resto da minha vida. Então entendi :-)
Um beijo

não uso tempos, nem agendas ou instrumentos outros que meçam pedaços do existir. é jeito meu. por isso passar de um ano para o outro é cousa...