31 dezembro 2004

guarda tu, agora, é a tua vez...

Coimbra, em manhã de nevoeiro, escuro, baço
Em dia sem tempo(s) para ir ao teu encontro, dar-te um abraço,
Escrito e dito, na data que se pendurou em moldura, indiferente, estranha ao que se vai dizer…

Querido Palhaço,
Caiu um nevoeiro cinza por cima do nosso Mar.
Denso, quase escuro.
A separar-nos.
Consigo ver ao longe o desenho do teu brincar em forma de sorriso.
Enorme, GIGANTE, vermelho-de-encantar.
Parece, (o teu sorriso-palhaço), um farol escondido no ar e do tempo (lembra o teu vestir, ás riscas, a circular cambalhotas, a sorrir, sempre a sorrir, ora vermelho, ora rir)
Envio-te este escrever, em carta, não vás esquecer-te que continuo aqui, a esperar-te e a ver-te. Tenho coisa tua, para te dar, quando este cinza, quase mar se levantar em nuvem para outro lugar. É aquela lágrima tua-nossa que sobrou do nosso Mar, quando nos entretínhamos a sonhar, sem tempo(s). Está aqui, na minha mão, para a devolver, é a tua vez de a guardar.
Um abraço, saltimbanco-vagabundo, para ti, para o meu melhor amigo, palhaço…

Ps. Dei conta, hoje, só hoje, que não é possível pintar um palhaço, sem a ajuda do vermelho, mesmo que se vista todo de amarelo…
PPs: Não disse, digo-o agora, tenho tantas saudades tuas…

In " Blogue de Cartas"

3 comentários:

BlueShell disse...

Sim, sem o vermeljo é difícil...
tão difícil como pintar céu em dia de sol...sem azul!
...e ele, certamente, também terá saudades tuas...

musalia disse...

a saudade. "perfume de coisas mortas", como diz Eduardo Lourenço, mas também muitos sentires que, "por excesso de vida não conseguem morrer".

ficam-nos na~memória e na alma...

Beijinhos, Almaro.

Lola disse...

Por vezes penduro uma fotografia numa moldura que invento para os afectos, para os meus amores. Nunca ponho datas nas fotografias. Apenas as emolduro para ver os amores perto de mim… sem datas, sem tempo, sem locais.
Adorei esta carta no Blogue de Cartas. Fico feliz por a reler aqui. Porque eu sempre quis ser palhaço. Porque amo essa profissão mais bela de todas e faço dos meus momentos felizes um circo de vida. Porque um palhaço é um farol feito de luz e de sorrisos e que tem apenas uma utilidade. A mais fantástica de todas. A de criar e plantar sorrisos nos rostos e nas almas.
Eu pinto palhaços no meu rosto, guardo as minhas lágrimas em caixinhas de vidro e abro os braços para o dia, em cores incríveis e loucas. Sabes o que nos espanta a tristeza? E as saudades? Apenas uma gargalhada. Limpa, pura, cristalina, como um rosto e um corpo de um palhaço.

Uma surpresa...http://ascoisasquegosto.blogspot.com/
(estou a fazê-la)

não uso tempos, nem agendas ou instrumentos outros que meçam pedaços do existir. é jeito meu. por isso passar de um ano para o outro é cousa...