Queria tanto ser uma árvore…
Ouvi ao longe numa espécie de choro cristalino. Olhei mas não vi de onde...
Estás a ouvir-me? Queria tanto ser um árvore, mesmo que seja uma das pequeninas…
Oiço, sim, mas repito-me, não te vejo…Eu sei que tenho andado distraído com as minhas pontes, com as minhas viagens, com os meus cansaços, mas na verdade só te oiço, estás longe do meu olhar…
Estou aqui, em baixo, sou a tua papoila…
Mas porque razão queres ser árvore?
Queria tanto ver coisas outras…e ter o tempo todo de uma árvore…
Ensandeceste! E a cor? A cor de papoila? Que fazias à tua cor de papoila, à tua delicadeza de seres quase seda, a de seres a primeira flor dada a uma mãe, a de seres a primeira flor dada com amor? Ninguém agarra numa árvore e a oferece pintada de papoila! Por ventura já gastaste o teu Tempo? Que eu saiba renasces todo o ano, em sítios diferentes…viajas com o tempo e na terra que te dá a cor. Essa cor é só para ti. Esta árvore que te dá sombra come da mesma terra que tu, e não se pinta de papoila, pinta-se de árvore…
Deixa-me sozinha, sim…continua distraído com as tuas pontes e deixa-me com o meu sonho…
Mas deves viver o teu sonho, não deixes é de te viver papoila!
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5 comentários:
Um dia pintei uma flor lá no meu paraíso. E ela queria ser mais bonita. Tinha um sonho parecido com o da tua papoila. Mas lá acabei por convencê-la que devemos aceitar a nossa condição. Sonhar alto. Ver com outros olhos. Mas sermos nós próprios... Não é assim, querido Almaro? * Beijinho
Olá Almaro
A tua deliciosa conversa com a papoila, fez-me lembrar "O Principezinho" e realmente é preciso ter o "dom" da escrita, como tu tens! para escrever algo que nos faça lembrar a escrita de Antoine de Saint-Exupéri.
PARABÉNS... é um texto LINDO!
Um beijo
Cakau: Tens razão, estive a reler a tua flor ( 28 de abril de 2005). Já a tinha lido e a mensagem é de facto semelhante. É engraçado como as coisas nos ficam no subconsciente. Naturalmente a tua flor misturou-se com a minha papoila.
Esta minha história surgiu-me ontem ao deparar com um homem que tinha comportamentos dissonantes com a sua idade. No caminho entre Lisboa e Coimbra dei comigo a conversar com a minha papoila que porventura ficou escondida dentro de mim ao ter lido a tua linda história e que com prazer reli agora.
Pus um ovo!
não sei pintar flores, sinto-as, apenas.
hummm, às vezes há certos indivíduos que se comportam assim... (quem sabe se tentam aproximar-se da idade, ou diluir a diferença, de quem está ao seu lado?) não sei...
mas a papoila, tal como todos nós, quer transpor a trasitoriedade da vida...
beijos meigos, Almaro.
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