Afastei-me, passo após passo, à procura de sombra, para poder ver todos os matizes do dia que se pintou sozinho.
Procuro a distância que o separa do olhar, com a curiosidade de quem procura a descoberta. Prendo-me na nitidez da linha que separa a sombra e as cores que se afirmam orgulhosas de luz, a desafiar o sentir e os sentidos.
Fixo-a sem forma e desequilibro-a, ao mergulhar fundo, no mundo imaginário que borbulha entre um e outro e me transforma em gaivota-flor com pinturas de palhaço-saltimbanco e por ali fico a ser-me…
Estou, o tempo exacto, com o olhar que me calhou na herança-da-descoberta, como pedaço de cauda de lagartixa, separada do corpo em pasmos do existir.
Viagem fugaz, ao mundo que me vive no olhar de menino que se funde com a ténue linha que se contorna de sombra.
Instantes sem memória que se maravilham extasiados, perdidos no tempo, inteiros, no sonho de uma criança que se deixa ir no balão que lhe fugiu para o céu até se transformar em estrela...
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