04 fevereiro 2005

abismo

Persegues-me, no silêncio de uma sombra.
Cobardemente ausente, a vasculhar-me os sentidos, os recantos do meu ser, pisas-me…
Vejo-te.
Sei-te, veneno em gota.
Incolor.
Esmagas, passo por passo, os meus, sem entenderes que passo dado não se repete, não se repisa. Trilho, é caminho andado, não é descoberta. Tem nome. Nome tem olhar e o Ver sentir.
A sombra dos meus passos tem a minha angústia, não a tua, que é outra. Tua.
Espreitas-me o olhar, o sentir, intrusa.
Só não me sabes o querer…
És palhaço pintado em cenário de papel, com muitas tintas, tantas que te esborrachas nódoa, no chão, sem passos, teus.
Os meus navegam, bolinam. São meus.
Caiem no abismo, gritas-me.
Vejo-te!
Sei-te longe, de longe do meu voo...
Branco de gaivota-azul, vou, Palhaço-de -carne-vivo, lacerado, mas a sentir passo por passo o caminho que dou. Meu.

( de vez a vez, mais do que o desejado releio-me e vejo-me todo lá dentro, possessivo de mim. são instantes, escritos que ficam como um passo, mas, acreditem, há outros olhares, outros sentires, no tempo que sobra de cada instante em que me escondo em mim. como um cágado, ou um caracol, ou um homem, assustado...)

Palavras sopradas em jeito de abraço pela Seilá:

..."Nada dos outros é nosso - a gente sofre a NOSSA dor alegria tristeza...ai que solidão a deste ser...damos as mãos mas somos tão eminentemente sós que se não sabemos SER que somos e SÊ-LO andamos a esvoaçar em procura do ser uno e nem damos as mãos ...o que nos resta...
Olha se não perceberes apaga.."

Percebi, julgo...não apaguei...




Sem comentários:

não uso tempos, nem agendas ou instrumentos outros que meçam pedaços do existir. é jeito meu. por isso passar de um ano para o outro é cousa...