05 fevereiro 2005

devaneio surrealista

Hoje divago,
devaneio sem sentido, fora desta atmosfera densa e intensa das emoções.
Sigo a linha do desenho, curva seguida de curva à procura da forma, da imagem, deslizando no deleite da descoberta.
Caminhos novos, íntimos que esvoaçam suspensos, no ser.
Olho o desenho, imaginando-me mágico que num golpe de asa, num sopro, num assobio, o transforme num delicado flamingo-rosa , a elevar-se rasante até ao infinito. Escrevo sem sentido, espasmos de memórias, divago, como quem semi-dorme numa carruagem de comboio, sem tempo, nem pressas, nem cais de desembarque.
É um ir, não uma fuga (estás a ficar chato. sempre esta vontade louca desmedida de ir, de caminhar, de avançar, de descobrir. repito esta lenga-lenga, quase até à exaustão…será do comboio, será duvida se realmente fujo? não, é apenas uma cor que gosto, que uso, porque me reconheço nela, uma espécie de azul-nuvem, que permite olhar o sol de frente, sem dor).
Hoje divago,
sem sentido, vestido de oleado amarelo-torrado-de-marinheiro-pescador do-mar-do-norte, encrespado num sobe e desce, ora céu ora abismo, neste Mar que me envolve em onda-de-vida.
Atropelo os meus fantasmas, as minhas sombras ( repito-me novamente , agora já não é o rame-rame do comboio, é mesmo o barco que vai de feição por esse mar dentro, que me ferve na alma. outra cor de que gosto e que uso em abuso. tenho que voltar ao mercado das cores, amanhã é dia de mercado, vou levantar-me cedo, quero vê-las todas juntas e escolher apenas aquelas que me dançarem, saltimbancas ao som da brisa).
Mergulho na fantasia e deslizo como uma lágrima que acaricia a emoção antes de se disfarçar em sorriso e deixo-me maravilhar pela viagem que me oferece o esbelto e feminino flamingo-rosa, que insiste que lhe chame Girassol. (Girassol? que raio de nome para um flamingo-rosa? ).
Hoje divago,
sem rumo , no interior colorido de um sonho inconsequente, apenas pelo prazer de voar num flamingo-rosa, lindo de esbelto, que só sorri a fingir-se de girassol.
As palavras estão sem rosto, porque não tem outro intuito senão o de terem nascido assim tal qua,l de uma divagação sem sentido.
(Disse-me o Mestre um dia, ao ouvido, que a melhor provocação para o sonho, é fazer um esboço difuso de um quase-sonho, para que cada um sinta a sua própria história e voe com a emoção da sua própria magia, com o peso exacto das emoções que se esconde em cada uma das lágrimas que, atrevidas e aventureiras se transformam em sorriso, como um Girassol, que não Gira, mas que todos imaginam girar…)

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não uso tempos, nem agendas ou instrumentos outros que meçam pedaços do existir. é jeito meu. por isso passar de um ano para o outro é cousa...