Encontrei uma árvore que chorava, em soluços de angústia, como alguém que se sente injustiçado…
Porque choras? Pergunto contagiado…
Sinto-me só! Disse-me em cores escuras, em silêncios de brisa, com os sons desbotados no brilho, a confundir-se toda no tronco, como quem se envergonha de existir.
Só? Mas tu és uma árvore-de-encantamento! Todos aqui vem beber a tua sombra, todos te procuram, porque as tuas folhas provocam o sonho, o voo, a quimera…vêm todos os dias em busca do maravilhar, não há razão para estares triste!
Vês alguém aqui hoje a fazer-me companhia? Nem uma criança, nem um pardal, um cão ou gato. Nada , nem a luz me visitou hoje! Insistiu, em choro de folhas, cada vez mais triste.
Não! De facto não vejo ninguém que se abeire de ti, confirmei quase em admiração. (devia haver um ponto de admiração próprio para quem de admira com intensidade, como os há para exclamar ou interrogar, para quem se admira até fazer doer o olhar, esbugalhado de tanto sentir…admitamos, este sinal Ї)
NãoЇ De facto não vejo ninguém que se abeire de tiЇ, repito admirado, com intensidade…
Pois é! Zangaram-se comigo, porque (dizem) as iludi e acreditaram que eu era mais do que uma árvore. Zangaram-se de-sério, porque eu era, afinal, uma fantasiaЇ Cansaram-se de sonhar e agora acusam-me de as ter enganado-feio. Eu que sempre fui uma árvore-de-sonhar…tenho ali um letreiro em letras grandes-enormes, pendurado nos meus ramos que diz para quem olha e lê: Perigo! Aqui sonha-se! Mas parece que ninguém quer ler, que ninguém quer perceber que aqui, debaixo da minha sombra apenas pretendo provocar o sonho, para que cada um possa levar consigo um pedaço da sua própria fantasia, para se maravilhar com o VER!
02 fevereiro 2005
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