Não!
Quero ser, nada!
Hoje, não quero ser...
Tenho medo do poeta,
que se finge,
se pinta,
se inventa…
Pior que ser nada,
é este navegar,
sem sentido,
nesta fantasia lenta,
que mente
e
nos suja,
nos dobra,
queima,
e
esvoaça demente.
Não!
Hoje não vou enlouquecer,
vou andar por aí,
sem VER.
Sou abismo de mim,
na palavra do EU…
Quero Ser,
Nada,
sem temer…
Tirem-me o Vagabundo
Dispam-me D-E-L-E,
Tirem-me o Mar,
a gaivota,
tudo!
Levem todo,
num grito só,
mudo!
Mas devagar,
para não ficar nada no meu Ser…
Mergulhem-me no verde,
no azul,
no amarelo,
no branco e no preto,
sem pressa,
pintem-me todo,
esborratado,
engravatado,
não interessa,
e
soprem,
soprem-me todo,
Tudo,
pelo ar,
até ficar , nada.
Tudo muito bem apertado,
machucado,
Vazio!
Quero ser, Nada,
sem palavras
nem poesia…
Sossegado,
a deslizar sozinho pelo rio,
Hoje quero ser, Nada,
pássaro, sem assobio,
nevoeiro, sem maresia...
Ah! Nem o Eu me safa,
deste meu querer destemido,
de não ser barco,
nem vento,
nem cor,
nem gota,
nem fio
de água.
Nem janela sou,
nem papoila,
nem agonia,
nem pó,
Nada!
Não te escondas no EU, que até esse voo…
5 comentários:
Glorioso!!! A qualidade a que sempre nos habituou!
Li..tornei a ler... com comoção por dentro e por fora.
Eu,que sempre quis ser gaivota,"hoje quero ser,nada"!
Que bem que escreves. Obrigado.
Algenibe
Ler o que escreve altera-me.
Nutro um imenso respeito pelas palavras, mas mais ainda pelos sentimentos que expressa. Não bastam meras palavras. O ritmo, a acção, a vontade, o sentimento.. tudo grita em uníssono, numa perfeita harmonia.
Às vezes também me apetece não ser nada, desprovida de alma. Mas é tão difícil... Resigno-me ao simples nada que já sou, pintada-multicolor, no cinzento da vida.
(Adicionei-o, finalmente, aos meus "paraísos interessantes"!) *
há momentos em que nos apetece diluirmo-nos no Nada, respirarmos apenas, em quietude perfeita. habitarmos o silêncio e nele descansarmos a alma.
beijinhos, Almaro.
Fantástico! Até eu quero ser nada...
Enviar um comentário