A tarde cansou-se de me esperar e foi por aí, sem saudades à aventura, sozinha.
As tardes são coisas estranhas (os dias, as noites, também, mas as tardes refinam na subtileza do mistério…) que se desdobram (qual caleidoscópio) na vida e para a vida de cada um…
A que me coube em sorte foi irreverente e não esperou por mim…
Azar só dela (perdoem-me a arrogância, mas como a tarde é minha dou-me a esse desvario) porque partiu cega e andarilha, presa ao umbigo do meu olhar.
Podia ser rancoroso e deixá-la ir assim sem mais nada, cortando-lhe o cordão (umbilical) mas corria o risco de ela se perder e eu ficar irremediavelmente desorientado na vida, sem uma tarde e olhem que isto de se passar da manhã para a noite é coisa de gente mal encarada com a vida e eu não me permito sê-lo, porque curta. Sei-me de missão encontrar todos os dias uma cor nova, tarefa de todo incompatível com desencontros voluntários com a vida…
Sei que a culpa é minha, ela (tarde) fez tudo para me realinhar com o tempo, mas eu estava tão entretido a escrever um manual prático de como se guardar o pôr-do-sol no bolso (para uso imediato e em qualquer hora do dia) que me distraí.
Não encontrava descoberta convincente para conservar a cor.
Estava indeciso em envolver o pôr-do-sol entre pétalas de rosa ou entre reflexos-de-olhar-de-menino-a-falar-com-a-sua-estrela.
Optei pela segunda e corri a agarrar a tarde…
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7 comentários:
Belíssimo momento do homem-com-olhos-de-menino...
Lindo, suave como o cair da tarde...
BJS
Bem me parecia que a tarde corria veloz e impaciente. Afinal devia estar só a mostrar o seu (des)agrado em não a acompanhares como ela queria.
A noite chegou depressa. E deixei-a envolver-me com ternura...
Admiraste a tua estrela?
Beijo *
P.S. Reparei que me denominas de Caku :P Mas acho Cakau mais simpático :P Muah *
Cakau: desculpa, não me passou pelo olhar que fosses chocolate...eheheh. falando a sério, nem tinha reparado que andava equivocado. É o que dá em andar a correr atrás das tardes....
Almaro,
Até o teu comentário
é poesia pra mim...
para não variar gostei, mas, o que nem sempre me acontece, fiquei a desejar escrever...ir atrás dessa tua tarde, tu, me vi eu no meu pensar, a ti, andando, depois de aconchegado um pôr de sol a teu jeito registado nesse péssimo hábito,que assim o chamo eu sei lá se ele o é, de fazer um manual daquelas "coisas" que são as mais da vida e se não se registam depois como é que a gente vai saber, mas retira a originalidade de, como no caso, guardar a uma qualquer hora do dia um por de sol ainda mais no bolso... e, a um tempo que lia e pensava nestes pormenores de importância nenhuma, te via, ao Zé se, ir buscando a tal tarde e desandar no tempo que uma terde, ao que me dizem ancestrais ditos, muitos escritos em manuais imensos, uma tarde anda sempre no sentido do sol se pondo e, mesmo que este esteja escondido na algibeira, ela desvia-se e vai lá deitar-se e acabar-se naquilo que se passa chamr de fim-de-tarde "que lindo fim-de-tarde"...ora indo tu correndo a pegar a tarde, cuido eu, que sei nada,deves de ter desatinaste o tempo! e é aqui que eu gostava que houvesse um registo que me a mim ensinasse a desvoltar assim para correr atrás de uma tarde de hoje ou, mais ainda gostava eu, de uma outra que já tivesse sido uma tarde antes de um por-de-sol há muito tanto que foi num outro tempo... Que eu sei que ele há neste de viver muito que mesmo em registado escrito e lido, apenas de manual de prático se lhe dá de ser ao próprio que viu,sentiu, ouviu e registou... Mesmo assim...mesmo assim...passas-me o apontamento que decerto fizeste, de como correr a agarrar a tarde com o sol a esperar por ela aconchegado nesses.............é se calhar eu nunca iria conseguir "reflexos-de-olhar-de-menino-a-falar-com-a-sua-estrela"....Deixa, Zé...eu vou tentar de outro modo, mas deixa dizer que me fez bem imaginar que, com o teu manual, conseguisse...eu fico imaginando que é quase o mesmo que ...
Oh, não faz mal :) Tomara que todos os nossos equívocos fossem assim tão simples de resolver, não é? :)
Um beijinho enorme! *
Seilá: caro Saramago, ai desculpa a distracção, estava tão embrenhado na leitura, que sem querer já não sabia se estava a ouvir a Bilmunda se a ler o soluçar do pensamento da minha querida “Seilá”. Tinha Saudades destes teus impulsos intimistas dirigidos ao Zé, guardião do olhar de almaro, tipo recheado de tiques e manias com a ilusão que tem sapiência para manuais e sebentas que ninguém lê porque a ninguém interessa.
Mas vou dizer-te( eu , Zé) um segredo desse menino almaro que anda por aí a acorrer atrás das tardes…o gajo faz os manuais no sentir…não os escreve com letras, destas que nós usamos para sorrir um poema ou uma história….é doido, não imaginas as tardes que ele leva a fazer esses manuais que só ele sabe…e depois fica todo cansado cheio de satisfação porque pensa ( louco) que produziu obra inesquecível para o ensinamento de gerações futuras…coitado.
Tudo isto para dizer, que espreitando o dito manual fica-se só a saber que ele conseguiu maneira de andar todo o dia (tarde e noite) com o pôr-do-sol no bolso, desconfio que em pó ( para se diluir na lágrima do olhar sempre que necessário), mais não consegui espreitar, ou melhor consegui, só que o malandro faz uns hieroglífos manhosos que só ele entende .
Deixo-te um beijo de saudades, zé ( o almaro dorme…o doido nem se apercebe que desta já não vai apanhar a tempo a tarde que lhe foi destinada, mas depois, sabe ele que o melhor da tarde já tem no bolso, por isso deixá-lo dormir…)
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